ALENCAR, José de
LUCÍOLA
O livro foi composto a partir de cartas reunidas por G. M., que desde o início tenta justificar as cenas impudicas que serão lidas.
A história é contada por Paulo, que além de narrador – 1ª pessoa – também é protagonista. Apesar de ele estar lembrando acontecimentos que ocorreram no passado, conta-os da forma que os sentiu no momento em que ocorreram, como se estivesse passando por eles no tempo presente.
Paulo tem 20 anos; seu melhor amigo é o Sá, um pouco mais velho que ele, um tanto mais rico e muito mais excêntrico; ao contrário de Paulo, vê nas prostitutas um objeto, e não um sujeito.
Recompondo o passado, Paulo permite-nos moldar a sua própria personalidade, a de Lúcia e a daqueles que o cercam. É com suas impressões que ele recompõe este fragmento de sua vida.
No começo da narrativa, apesar das evidências, Paulo parece duvidar que moça de ar tão distinto e casto como Lúcia seja realmente uma cortesã; mas é uma dúvida sutil, talvez um certo constrangimento moral, um receio pueril, do tipo que sentimos ao ver nuvens negras e nos perguntarmos: será mesmo que vai chover?
Ao primeiro abraço de Paulo, Lúcia, aflita e triste por ele ter perdido aquela dúvida e não a ver mais como a tinha visto da primeira vez – revestida de recato e pureza – chora duas lágrimas compridas que lhe escorrem lentamente pelas faces. Há aqui um pouco de arrependimento por parte da prostituta, que sente o preconceito daquele por quem começava a nutrir certa amizade.
Nas páginas 53 e 54 o autor fala das reticências, das quais abdica, e do obsceno do que vai escrever, avisando ao leitor e com isso tentando impedir que algum editor da época cortasse as cenas mais picantes.
Paulo fica indignado ao saber que algumas pessoas estão pensando que ele está vivendo às custas de Lúcia, ainda mais pela vergonha de não poder pagar à moça com o luxo e a riqueza que ela merece.
Ele a obriga a ter amantes, abrindo mão de sua exclusividade, mas sente ciúmes. Ela fica com o Couto. Nisto, Paulo, para fazê-la sentir ciúmes, marca um encontro com Nina, mas falta a esse encontro. Notar aí o fato de ele obrigá-la a ter um amante, mas ficar com ciúmes e retaliar.
Ele a maltrata, depois arrepende-se. Notar a sua instabilidade e inconstância.
Lúcia acaba perdendo o desejo sexual. Com isso tenta espiritualizar o seu amor; surge o interesse pelo passado de Paulo e por suas pretensões ao futuro. Ela começa a recusar-se ao sexo. O sexo lhe tortura por parecer-lhe abjeto.
Notar a incrível submissão a que ela se larga.
Paulo acha que ela o está torturando de propósito, mas depois se dá conta do verdadeiro motivo:
“O que outrora me parecia vileza era já delicada atenção”. Vileza: por ter sido prostituta. Atenção: por ser agora mulher, deixa a posição de objeto para ser sujeito.
Notar a cadência dada ao texto devido ao fato de Lúcia ser uma prostituta, favorecida pela eterna dúvida de Paulo, que sempre desconfia que tudo não passa de uma encenação, de um capricho.
Lúcia narra os fatos decisivos de sua vida a Paulo. Início na p. 160.
Ela conta que o Couto foi o primeiro a possuí-la, quando aos 14 anos, com a família inteira doente, viu-se obrigada a aceitar seu dinheiro, depois de ter recusado por várias vezes. Notar que ela não foi prostituta por imoralidade, mas por necessidade.
O pai, já convalescente, ao saber pela boca da filha o que tinha acontecido, expulsa-a de casa, sem aperceber-se da inocência da menina, e do heroísmo de tal ação, por ter-lhe devolvido a vida.
Jesuína, que lhe ajudara quando de um mal-estar, afastando Paulo de perto dela, foi quem recolheu-a da rua e a pôs de vez na prostituição.
Mesmo expulsa de casa, ela nunca deixou que nada faltasse à família; assim, Paulo fica sabendo o segredo da avareza de que acusavam Lúcia, e o leitor a toma como heroína boa e virtuosa.
Tendo uma amiga morta, Maria da Glória (Lúcia) troca de nome com esta para permitir à sua família a tranqüilidade, já que a lembrança de seu erro a perseguia.
Da família de Maria só restou viva a irmãzinha Ana, que Lúcia toma para ir morar com ela, em uma casa simples e modesta.
Lúcia tinha então 19 anos.
Couto, ressentido do asco que Lúcia nutre por ele, tenta desmoralizá-la diante das amigas de Ana, suas vizinhas; no entanto, Lúcia não perde a dignidade e a altivez, e Couto vê seu intuito fracassado.
Notar a vida tranqüila que vivem os três (Paulo, Ana e Lúcia) depois de um início conturbado, sendo que Paulo é apenas uma visita constante, tido tão-somente como um grande amigo. E Paulo, para surpresa do leitor, sente-se feliz com esta situação.
Lúcia, muito doente, propõe a Paulo casar-se com Ana (irmã de Lúcia), mas ele recusa. “(...) promete-me que, se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai”. Isto no período da febre.
Lúcia, ou Maria da Glória, como ela queria que Paulo e a irmã a chamassem, morre num aborto natural com complicações.
Paulo, para nos informar – ou à senhora para quem remete o livro, a senhora G. M. – diz que Ana casou-se e é feliz ao lado de um marido que a ama.
Lúcia morrera como uma mártir, no melhor estilo de mártir cristã.
LUCÍOLA
O livro foi composto a partir de cartas reunidas por G. M., que desde o início tenta justificar as cenas impudicas que serão lidas.
A história é contada por Paulo, que além de narrador – 1ª pessoa – também é protagonista. Apesar de ele estar lembrando acontecimentos que ocorreram no passado, conta-os da forma que os sentiu no momento em que ocorreram, como se estivesse passando por eles no tempo presente.
Paulo tem 20 anos; seu melhor amigo é o Sá, um pouco mais velho que ele, um tanto mais rico e muito mais excêntrico; ao contrário de Paulo, vê nas prostitutas um objeto, e não um sujeito.
Recompondo o passado, Paulo permite-nos moldar a sua própria personalidade, a de Lúcia e a daqueles que o cercam. É com suas impressões que ele recompõe este fragmento de sua vida.
No começo da narrativa, apesar das evidências, Paulo parece duvidar que moça de ar tão distinto e casto como Lúcia seja realmente uma cortesã; mas é uma dúvida sutil, talvez um certo constrangimento moral, um receio pueril, do tipo que sentimos ao ver nuvens negras e nos perguntarmos: será mesmo que vai chover?
Ao primeiro abraço de Paulo, Lúcia, aflita e triste por ele ter perdido aquela dúvida e não a ver mais como a tinha visto da primeira vez – revestida de recato e pureza – chora duas lágrimas compridas que lhe escorrem lentamente pelas faces. Há aqui um pouco de arrependimento por parte da prostituta, que sente o preconceito daquele por quem começava a nutrir certa amizade.
Nas páginas 53 e 54 o autor fala das reticências, das quais abdica, e do obsceno do que vai escrever, avisando ao leitor e com isso tentando impedir que algum editor da época cortasse as cenas mais picantes.
Paulo fica indignado ao saber que algumas pessoas estão pensando que ele está vivendo às custas de Lúcia, ainda mais pela vergonha de não poder pagar à moça com o luxo e a riqueza que ela merece.
Ele a obriga a ter amantes, abrindo mão de sua exclusividade, mas sente ciúmes. Ela fica com o Couto. Nisto, Paulo, para fazê-la sentir ciúmes, marca um encontro com Nina, mas falta a esse encontro. Notar aí o fato de ele obrigá-la a ter um amante, mas ficar com ciúmes e retaliar.
Ele a maltrata, depois arrepende-se. Notar a sua instabilidade e inconstância.
Lúcia acaba perdendo o desejo sexual. Com isso tenta espiritualizar o seu amor; surge o interesse pelo passado de Paulo e por suas pretensões ao futuro. Ela começa a recusar-se ao sexo. O sexo lhe tortura por parecer-lhe abjeto.
Notar a incrível submissão a que ela se larga.
Paulo acha que ela o está torturando de propósito, mas depois se dá conta do verdadeiro motivo:
“O que outrora me parecia vileza era já delicada atenção”. Vileza: por ter sido prostituta. Atenção: por ser agora mulher, deixa a posição de objeto para ser sujeito.
Notar a cadência dada ao texto devido ao fato de Lúcia ser uma prostituta, favorecida pela eterna dúvida de Paulo, que sempre desconfia que tudo não passa de uma encenação, de um capricho.
Lúcia narra os fatos decisivos de sua vida a Paulo. Início na p. 160.
Ela conta que o Couto foi o primeiro a possuí-la, quando aos 14 anos, com a família inteira doente, viu-se obrigada a aceitar seu dinheiro, depois de ter recusado por várias vezes. Notar que ela não foi prostituta por imoralidade, mas por necessidade.
O pai, já convalescente, ao saber pela boca da filha o que tinha acontecido, expulsa-a de casa, sem aperceber-se da inocência da menina, e do heroísmo de tal ação, por ter-lhe devolvido a vida.
Jesuína, que lhe ajudara quando de um mal-estar, afastando Paulo de perto dela, foi quem recolheu-a da rua e a pôs de vez na prostituição.
Mesmo expulsa de casa, ela nunca deixou que nada faltasse à família; assim, Paulo fica sabendo o segredo da avareza de que acusavam Lúcia, e o leitor a toma como heroína boa e virtuosa.
Tendo uma amiga morta, Maria da Glória (Lúcia) troca de nome com esta para permitir à sua família a tranqüilidade, já que a lembrança de seu erro a perseguia.
Da família de Maria só restou viva a irmãzinha Ana, que Lúcia toma para ir morar com ela, em uma casa simples e modesta.
Lúcia tinha então 19 anos.
Couto, ressentido do asco que Lúcia nutre por ele, tenta desmoralizá-la diante das amigas de Ana, suas vizinhas; no entanto, Lúcia não perde a dignidade e a altivez, e Couto vê seu intuito fracassado.
Notar a vida tranqüila que vivem os três (Paulo, Ana e Lúcia) depois de um início conturbado, sendo que Paulo é apenas uma visita constante, tido tão-somente como um grande amigo. E Paulo, para surpresa do leitor, sente-se feliz com esta situação.
Lúcia, muito doente, propõe a Paulo casar-se com Ana (irmã de Lúcia), mas ele recusa. “(...) promete-me que, se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai”. Isto no período da febre.
Lúcia, ou Maria da Glória, como ela queria que Paulo e a irmã a chamassem, morre num aborto natural com complicações.
Paulo, para nos informar – ou à senhora para quem remete o livro, a senhora G. M. – diz que Ana casou-se e é feliz ao lado de um marido que a ama.
Lúcia morrera como uma mártir, no melhor estilo de mártir cristã.