sábado, 5 de dezembro de 2009

MACUNAÍMA, de Mário de Andrade

ANOTAÇÕES E COMENTÁRIOS SOBRE MACUNAÍMA
É uma Rapsódia: soma de temas tirados do povo mas transpostos por um autor culto, segundo definição de Mário.
Quando pequeno, Macunaíma choramingava para conseguir o que queria, e já aos seis anos atazanava as meninas. No mato, transformava-se num príncipe e “brincava” com a mulher do irmão.
“os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem.”
Notar o cômico, o inusitado, o impossível etc.
15 A mãe abandona Macunaíma num deserto porque ele escondera a comida dos irmãos.
“pra mim comer” 16
Jiguê arrumou outra mulher, Iriqui. Macunaíma, quando retorna do deserto, anuncia que a mãe vai morrer, e transa com Iriqui; então Jiguê deixa ela pra ele.
Ele é quem acaba matando a mãe, confundindo-a com uma “viada”, enfeitiçada ela por Anhangá.
20 Macunaíma transa com a Mãe do Mato e se torna “o novo Imperador do Mato-Virgem”.
Macunaíma e Ci brincam brincam. É muito brincar!
“- Ai! Que preguiça...”
“Nem bem seis meses passaram e a Mãe do Mato pariu um filho encarnado.” 21
22 O filho morre envenenado no seio de Ci, sua mãe. De seu corpo nasce o guaraná. Ci sobe pro céu num cipó, e Macunaíma sente saudades.
NOTAR a grande quantidade de cenas, aços; é IMPOSSÍVEL fazer um resumo do livro.
FOLCLORE E LENDAS de todas as regiões, até o Negrinho do Pastoreio. 27
30 Macunaíma embranquece na água empoçada na pegada do pé de Sumé, “do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira.”
31 Chegam em São Paulo.
32 “Eram máquinas e tudo na cidade eram máquinas!” As prostitutas ensinando pra Macunaíma que nada daquilo era bicho: era só máquinas. Ele pega sapinho por ter transado com elas.
Os paulistas são os filhos da mandioca. “A Máquina era que matava os homens porém os homens é que mandavam na Máquina...” 32 Macunaíma depois de muito pensar conclui: “Os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens.” 33
35 Maanape catando os pedaços de Macunaíma, estraçalhado pelo gigante Venceslau Pietro Pietra.
“E foi assim que Maanape inventou o bicho-do-café, Jiguê a lagarta-rosada e Macunaíma o futebol, três pragas.” 38
42 Macunaíma enganava o gigante Piaimã. Sagaz e malandro.
NO TERREIRO DE MACUMBA: “Um carniceiro pediu pra todos comprarem a carne doente dele e Exu consentiu. Um fazendeiro pediu pra não ter mais saúva nem maleita no sítio dele e Exu se riu falando que isso não consentia não. Um namorista pediu pra pequena dele conseguir o lugar de professora municipal pra casarem e Exu consentiu. Um médico fez um discurso pedindo pra escrever com muita elegância a fala portuguesa e Exu não consentiu.” 49
Neste terreiro, Macunaíma surra, através da Macumba, o eu de Paimã.
‘POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA, OS MALES DO BRASIL SÃO!” 56
Icamiabas: as senhoras do Amazonas. 59
Na carta, Macunaíma usa de erudição – para fazê-las heróicas.
“Macunaíma aproveitava a espera se aperfeiçoando nas duas línguas da terra, o brasileiro falado e o português escrito.” 69
Macunaíma “desejava saber as línguas da terra”. 70
70 Encontra Fräulein.
71 O caso do puíto para designar botoeira e o sarcasmo para com os doutos eruditos da língua.
Macunaíma arma contra os irmãos para o povo inteiro surrá-los. Agora ele, súbito, os defende. 78
É preso. O povo agora muda de lado: está a favor dele. Ele aproveita a bulha e foge. 79 NOTAR A MUDANÇA DE OPINIÃO DO POVO, FACILMENTE MANIPULADO.
“Neste mundo tem três barras que são a perdição dos homens: barra de rio, barra de ouro e barra de saia...” palavras de Macunaíma.
87 Pega sarampo. NOTAR as inúmeras doenças que ele pega.
92 Macunaíma morre pela segunda vez. Bateu com um paralelepípedo em seus toaliquiçus, enganado por um macaco mono que disse que era possível comê-los. Notar que o herói também está sempre passando fome.
92 É ressuscitado novamente por Maanape. Ganha dinheiro no jogo do bicho e disso passam a viver.
96 Macunaíma transa com outra namorada de Jiguê, Suzi.
“o Pai do Sono inda existe e os homens por castigo não podem dormir em pé.” 100
106 Macunaíma mata o gigante pondo-o no molho do macarrão. Recupera a muiraquitã e chora com saudade de Ci, a única mulher que amara.
107 Retornam os três manos “pra querência deles”.
Arruma confusão com Oibê, outro monstrengo.
117 O local onde Macunaíma morava, Uraricoera, está em farrapos. “Macunaíma chorou.”
118 Vai buscar sua consciência, “deixada na ilha de Marapatá. Jacaré achou? nem ele. Então Macunaíma pegou a consciência dum hispano-americano, botou na cabeça e se deu bem da mesma forma.”
121 Macunaíma prepara uma armadilha para o mano Jiguê. Veneno de cobra em um anzol come-o todo, só lhe fica a sombra. Notar a maldade de Macunaíma com seus irmãos. A princesa que estava com Macunaíma mas também dava pra Jiguê quer se vingar, com a ajuda da sombra de Jiguê.
Macunaíma adoeceu e morrerá porque comeu a sombra leprosa. “Então se lembrou de passar a doença nos outros pra não morrer sozinho.” 121
Mas ele passa a doença para “sete outras fentes e ficou são”. 122
A sombra come todos e Macunaíma fica sozinho. “Ficara defunto sem choro, no abandono completo.” 126
Pula na água por causa da sedução da Uiara e é parcialmente devorado. Ele encontra seus pedaços e cola, só não encontrou a perna e a muiraquitã.
Sobe ao céu por um cipó. “NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRA”. 131
Ele e seus trecos (legornes etc.) vira a Ursa Maior. “A Ursa Maior é Macunaíma. É mesmo o herói capenga que de tanto penar na terra sem saúde e com muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se embora e banza solitário no campo vasto do céu.” 133
“E só o papagaio no silêncio do Uraricoera preservava do esquecimento os casos e a fala desaparecida. Só o papagaio conservava no silêncio as frases e feitos do herói.” 135
O papagaio contou a história pro homem, que virou o narrador da história que contou pra nós.

IRACEMA, de José de Alencar

ANOTAÇÕES SOBRE O ROMANCE IRACEMA


Inicia com uma carta que apresenta o livro, um presente a um amigo do Ceará.
Poema em prosa que conta romanticamente o surgimento do estado do Ceará, utilizando-se de alguns fatos históricos.
Há quem diga que Iracema é o anagrama de América.
Começa com a descrição do lugar, do mar e de Iracema, filha da grande nação tabajara.
Ela tem uma ará que é sua amiga e companheira, e a chama pelo nome.
Chega um guerreiro estranho, Martim. Iracema o acerta de raspão com uma flecha, ao vê-lo não reagir à sua violência, arrepende-se de tê-lo magoado e se desculpa. O guerreiro branco fala a língua dos índios.
O pai de Iracema, a quem o guerreiro é apresentado e hospedado em sua cabana, chama-se Araquém. O deus da tribo é Tupã.
Araquém é o pajé da tribo, recebe bem o hóspede dizendo que fora Tupã quem o mandara.
Iracema é a virgem que fabrica a bebida de Tupã para dar de beber ao pajé. Todas as outras mulheres podem “servir” ao guerreiro, exceto ela.
Irapuã desce a serra para ajudar os índios no próximo combate aos pitiguaras.
Quando Martim tenta ir embora, Iracema pede que ele espere seu irmão Caubi.
Irapuã solta o grito de guerra. Andira, irmão do pajé, destemido guerreiro, nega a guerra em favor da paz, mas Irapuã reafirma o confronto.
Martim tem uma noiva que o espera, Iracema percebe isso, mas ele já está desde o primeiro momento apaixonado por Iracema.
Ele tenta beijá-la, mas ela resiste.
Um dos guerreiros tabajaras quer matar o branco, para que bebendo o seu sangue talvez Iracema o ame. Ela vela por Martim durante a noite, cheia de remorsos por estar deixando-o a perigo. Ao perceber que Iracema fica triste com sua partida, Martim resolve ficar. Mas Iracema diz que ele deve partir. Na despedida, se beijam. A ará, jandaia, olha triste Iracema, que a esquecera desde a chegada do guerreiro branco.
Cem guerreiros tabajaras, comandados por Irapuã, querem matar o branco, mas Caubi e Iracema se colocam à frente dele para protegerem-no.
Martim duela com Irapuã, durante este duelo ouvem o troar da inúbia dos pitiguaras, o que interrompe a luta. Mas os pitiguaras não aparecem.Irapuã vai à cabana do pajé pegar Martim, mas Araquém defende seu hóspede expulsando Irapuã.
Foi Poti, amigo de Martim, que deu o sinal de guerra do pitiguaras para salvar o amigo. Ele veio só salvar o amigo. Iracema os aconselha a esperarem uma festa no dia seguinte para fugirem, já que os guerreiros todos estariam drogados.
Iracema dorme na rede com Martim.
A festa a que se referia Iracema é a celebração do mistério da Jurema, onde ocorrem oferendas a Tupã, e os índios bebem um líquido entorpecente.
Iracema conduz Martim e Poti e diz que não pode mais retornar, pois “Araquém não tem mais filha”.
Longe das terras dos tabajaras, Martim, agora acordado, toma Iracema pela segunda vez.
Os tabajaras vão atrás do estrangeiro para vingarem-se de ter ele tomado sua virgem.
Ocorre o encontro com os pitiguaras. Ronca a guerra.
Jacaúna X Irapuã.
Jacaúna cede lugar a Martim, para permitir sua vingança, mas quando Iracema o vê em perigo, mata Irapuã para defender seu amado.
Poti presenteia Martim com seu cão. Fora ele quem trouxera os guerreiros de Jacaúna para defendê-los dos tabajaras.
* Notar a grande cumplicidade entre os amigos.
Iracema fica nas terras dos pitiguaras, cujo deus também é Tupã, junto com Martim.
Martim diz que vai embora com Iracema. Poti, que é irmão de Jacaúna, os acompanha.
Eles três instalam-se à margem de um rio.
Martim sai à caça com Poti. Iracema regozija-se com o retorno.
Notar a vida de Iracema ao lado de Martim: colher frutos, banhar-se na lagoa, descansar...
Revela a Martim que está grávida quando este voltava da caça.
Martim torna-se um guerreiro pitiguara. Coatiabo é o nome que Iracema lhe dá, e significa o guerreiro pintado, o guerreiro da esposa e do amigo.
Ao ver um barco dos brancos, Martim fica triste devido à saudade. A felicidade começa a enjoá-lo.
Os brancos fazem aliança com Irapuã para combater os pitiguaras. Poti e Martim partem para a guerra sem avisar Iracema. Martim deixa apenas uma flecha enterrada na areia.
Iracema senta-se ao lado dessa flecha e só se recolhe à noite.
Jandaia a encontra.
Martim não leva Iracema para a terra dos brancos porque sabe que cada passo que a afasta dos tabajaras, é uma porção da vida que lhe rouba.
Iracema se dói do desejo não expresso do esposo de voltar à terra dos pais.
Mais uma guerra: a vingança dos brancos, guaraciabas, derrotados na anterior.
Elevação dos pitiguaras: os melhores guerreiros; Poti: o melhor chefe. IDEALIZAÇÃO.
Os brancos têm armas de fogo, canhões... Os índios arcos e flechas. Ainda assim, há nova vitória dos pitiguaras.
Iracema sente as dores do parto. A narrativa do nascimento é bem rápida. Ela tem o filho só; Martim ainda está na guerra.
Caubi vai encontrar Iracema, apenas para ver como ela está, sem nenhum sentimento de vingança.
Falta leite à Iracema; ela põe filhotes de cães a chuparem seus seios para formar leite.
Quando Martim volta, Caubi não está mais com Iracema, e esta, por sua vez, morre.
Iracema é enterrada aos pés de um coqueiro, onde Jandaia fica a velar seu túmulo.
Martim deixa Poti e parte com o filho e o cão fiel para sua terra. Mas volta logo, com guerreiros e um sacerdote.
O início da catequização; mas Martim continua defendendo os índios às atrocidades dos brancos.
Notar que não há notas no canto das páginas como em O Guarani; o autor vai explicando os termos na narrativa, logo após tê-los mencionado.
No final, como fora prometido no início, há nova “conversa” com o Dr. Jaguaribe.
O autor diz que fizera primeiro o livro em poesia, mas mudou de idéia achando que a prosa era um estilo melhor à narração daquilo a que se proporá contar.
Diz que o livro é “uma biografia perfumada pela alma de uma mulher”.
Notar que aí Alencar critica seus próprios erros, tentando dar uma dimensão de sua mediocridade; talvez por tática.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lucíola, de José de Alencar

ALENCAR, José de
LUCÍOLA


O livro foi composto a partir de cartas reunidas por G. M., que desde o início tenta justificar as cenas impudicas que serão lidas.
A história é contada por Paulo, que além de narrador – 1ª pessoa – também é protagonista. Apesar de ele estar lembrando acontecimentos que ocorreram no passado, conta-os da forma que os sentiu no momento em que ocorreram, como se estivesse passando por eles no tempo presente.
Paulo tem 20 anos; seu melhor amigo é o Sá, um pouco mais velho que ele, um tanto mais rico e muito mais excêntrico; ao contrário de Paulo, vê nas prostitutas um objeto, e não um sujeito.
Recompondo o passado, Paulo permite-nos moldar a sua própria personalidade, a de Lúcia e a daqueles que o cercam. É com suas impressões que ele recompõe este fragmento de sua vida.
No começo da narrativa, apesar das evidências, Paulo parece duvidar que moça de ar tão distinto e casto como Lúcia seja realmente uma cortesã; mas é uma dúvida sutil, talvez um certo constrangimento moral, um receio pueril, do tipo que sentimos ao ver nuvens negras e nos perguntarmos: será mesmo que vai chover?
Ao primeiro abraço de Paulo, Lúcia, aflita e triste por ele ter perdido aquela dúvida e não a ver mais como a tinha visto da primeira vez – revestida de recato e pureza – chora duas lágrimas compridas que lhe escorrem lentamente pelas faces. Há aqui um pouco de arrependimento por parte da prostituta, que sente o preconceito daquele por quem começava a nutrir certa amizade.
Nas páginas 53 e 54 o autor fala das reticências, das quais abdica, e do obsceno do que vai escrever, avisando ao leitor e com isso tentando impedir que algum editor da época cortasse as cenas mais picantes.
Paulo fica indignado ao saber que algumas pessoas estão pensando que ele está vivendo às custas de Lúcia, ainda mais pela vergonha de não poder pagar à moça com o luxo e a riqueza que ela merece.
Ele a obriga a ter amantes, abrindo mão de sua exclusividade, mas sente ciúmes. Ela fica com o Couto. Nisto, Paulo, para fazê-la sentir ciúmes, marca um encontro com Nina, mas falta a esse encontro. Notar aí o fato de ele obrigá-la a ter um amante, mas ficar com ciúmes e retaliar.
Ele a maltrata, depois arrepende-se. Notar a sua instabilidade e inconstância.
Lúcia acaba perdendo o desejo sexual. Com isso tenta espiritualizar o seu amor; surge o interesse pelo passado de Paulo e por suas pretensões ao futuro. Ela começa a recusar-se ao sexo. O sexo lhe tortura por parecer-lhe abjeto.
Notar a incrível submissão a que ela se larga.
Paulo acha que ela o está torturando de propósito, mas depois se dá conta do verdadeiro motivo:
“O que outrora me parecia vileza era já delicada atenção”. Vileza: por ter sido prostituta. Atenção: por ser agora mulher, deixa a posição de objeto para ser sujeito.
Notar a cadência dada ao texto devido ao fato de Lúcia ser uma prostituta, favorecida pela eterna dúvida de Paulo, que sempre desconfia que tudo não passa de uma encenação, de um capricho.
Lúcia narra os fatos decisivos de sua vida a Paulo. Início na p. 160.
Ela conta que o Couto foi o primeiro a possuí-la, quando aos 14 anos, com a família inteira doente, viu-se obrigada a aceitar seu dinheiro, depois de ter recusado por várias vezes. Notar que ela não foi prostituta por imoralidade, mas por necessidade.
O pai, já convalescente, ao saber pela boca da filha o que tinha acontecido, expulsa-a de casa, sem aperceber-se da inocência da menina, e do heroísmo de tal ação, por ter-lhe devolvido a vida.
Jesuína, que lhe ajudara quando de um mal-estar, afastando Paulo de perto dela, foi quem recolheu-a da rua e a pôs de vez na prostituição.
Mesmo expulsa de casa, ela nunca deixou que nada faltasse à família; assim, Paulo fica sabendo o segredo da avareza de que acusavam Lúcia, e o leitor a toma como heroína boa e virtuosa.
Tendo uma amiga morta, Maria da Glória (Lúcia) troca de nome com esta para permitir à sua família a tranqüilidade, já que a lembrança de seu erro a perseguia.
Da família de Maria só restou viva a irmãzinha Ana, que Lúcia toma para ir morar com ela, em uma casa simples e modesta.
Lúcia tinha então 19 anos.
Couto, ressentido do asco que Lúcia nutre por ele, tenta desmoralizá-la diante das amigas de Ana, suas vizinhas; no entanto, Lúcia não perde a dignidade e a altivez, e Couto vê seu intuito fracassado.
Notar a vida tranqüila que vivem os três (Paulo, Ana e Lúcia) depois de um início conturbado, sendo que Paulo é apenas uma visita constante, tido tão-somente como um grande amigo. E Paulo, para surpresa do leitor, sente-se feliz com esta situação.
Lúcia, muito doente, propõe a Paulo casar-se com Ana (irmã de Lúcia), mas ele recusa. “(...) promete-me que, se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai”. Isto no período da febre.
Lúcia, ou Maria da Glória, como ela queria que Paulo e a irmã a chamassem, morre num aborto natural com complicações.
Paulo, para nos informar – ou à senhora para quem remete o livro, a senhora G. M. – diz que Ana casou-se e é feliz ao lado de um marido que a ama.
Lúcia morrera como uma mártir, no melhor estilo de mártir cristã.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Questões sobre Murilo Mendes e Vinicius de Moraes

Algumas questíunculas sobre Murilo Mendes e Vinícius de Moraes.
Estas são moleza, nem precisa de gabarito.


Murilo Mendes

Texto para as questões 1 e 2
Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil-réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
1 – Sobre o poema ao lado, afirma-se:

I – critica os costumes brasileiros e apresenta um eu lírico satisfeito com o exílio.
II – apresenta a dura realidade dos pobres que não têm dinheiro para alimentarem-se com dignidade.
III – é uma paródia de um famoso poema romântico de Gonçalves Dias.
IV – é, de certa forma, autobiográfico, pois Murilo Mendes passou muito tempo de sua vida vivendo fora do Brasil.
V – demonstra a fé de Murilo Mendes, católico praticante cujo projeto lírico era “restaurar a poesia em Cristo”.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, IV e V c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas



2 – Ainda sobre o poema Canção do Exílio, afirma-se:
I – Os versos iniciados por letra minúscula marcam o fato de estes invadirem os intervalos que os separam do verso anterior, tanto sintática quanto semanticamente.
II – o eu lírico critica os poetas que se apartam do mundo em “torres de ametista” sem perceber que integram o povo brasileiro.
III – apesar de reconhecer que há problemas em sua pátria, o eu lírico sente-se sufocado em terra estrangeira.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I b) I e II c) I e III d) II e) I, II e III


3 – O livro de poemas em que Murilo Mendes se despede do Brasil, sobretudo de Minas Gerais, estado em que nasceu e cuja presença barroca do Aleijadinho influenciou-o profundamente, tem como título:
a) Poesia Liberdade
b) A poesia em pânico
c) As metamorfoses
d) Mundo enigma
e) Contemplação de Ouro Preto
Texto para a questão 4
O poeta na igreja

Entre a tua eternidade e o meu espírito
se balança o mundo das formas.
Não consigo ultrapassar a linha dos vitrais
pra repousar nos teus caminhos perfeitos.
Meu pensamento esbarra nos seios, nas coxas e ancas das mulheres,
pronto.
Estou aqui, nu, paralelo à tua vontade,
sitiado pelas imagens exteriores.
Todo o meu ser procura romper o seu próprio molde
em vão! noite do espírito
onde os círculos da minha vontade se esgotam.
Talhado pra eternidade das idéias
ai quem virá povoar o vazio da minha alma?

Vestidos suarentos, cabeças virando de repente,
pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,
seios decotados não me deixam ver a cruz.

Me desliguem do mundo das formas!

4 – Sobre o poema O poeta na igreja, afirma-se:

I – é modelo da poesia que tenta conciliar extremos, freqüente na obra de Murilo Mendes.
II – revela a espiritualidade do autor, cujo eu lírico, neste poema, demonstra sua inquietação diante de um mundo que o impede de alcançar a libertação das formas e a plenitude do espírito.
III – nele está presente a ginofilia (o apreço do autor pelas mulheres), das quais ele foi sempre um admirador.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I b) I e II c) I e III d) II e) I, II e III

Texto para a questão 5
O padre de ferro

Este homem não entendeu
O caráter brasileiro
Quis deitar muita energia,
Acabou se dando mal.
Antes deixar como está
Para ver como é que fica!...

5 – Este poema pertence ao livro:

a) O visionário, em que Murilo Mendes revela sua fé católica e seus anseios religiosos.
b) História do Brasil, em que Murilo Mendes expressa-se originalmente com poemas-piada sutis ainda inspirados pelos modernistas de 1922.
c) Tempo e eternidade, em que Murilo Mendes critica os princípios cristãos expressando a efemeridade da vida.
d) As metamorfoses, em que o autor demonstra a instabilidade da personalidade humana e revela uma profunda crise existencial.
Texto para a questão 6
Pré-história

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos.

6 – Este poema é um claro exemplo de qual tendência, freqüente em Murilo Mendes:

a) barroca
b) metafísica
c) surrealista
d) musicista
e) cubista
Texto para a questão 7
Meninos

Sentado à soleira da porta
Menino triste
Que nunca leu Júlio Verne
Menino que não joga bilboquê
Menino das brotoejas e da tosse eterna

Contempla o menino rico na varanda
Rodando na bicicleta
O mar autônomo sem fim

É triste a luta das classes.

7 – Sobre este poema, afirma-se:
I – demonstra a fé de Murilo Mendes, católico praticante cujo projeto lírico era “restaurar a poesia em Cristo”, resgatando a compaixão pelo ser humano.
II – revela que o autor simpatizava com a causa das classes pobres.
III – é um bom modelo para comprovar o comprometimento político de Murilo Mendes e seu interesse pelas causas humanitárias.
IV – demonstra a compaixão de Murilo Mendes pelas crianças, motivada pela amargura de nunca ter conseguido ter um filho.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I, II e III b) II e IV c) III e IV d) I, II e IV e) todas estão corretas

8 – Vinícius de Moraes
Leia os dois poemas abaixo para responder o que segue.
A uma mulher

Quando a madrugada entrou, eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Soneto de devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela

Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez... – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Sobre os poemas acima, afirma-se:
I – O primeiro mostra uma mulher idealizada, mística, produto de uma primeira fase católica do poeta; enquanto o segundo revela a mulher objeto, caracterizada na figura de uma prostituta.
II – O primeiro revela uma atmosfera mística, mostrando uma certa consciência do “pecado” que provoca um estado de confusão mental no eu lírico.
III – O segundo poema trata a mulher como ser carnal, lascivo, em oposição às mulheres românticas.
IV – O primeiro pertence à segunda fase do poeta, em que ele revela amadurecimento e um recrudescimento de seu espírito boêmio, tendendo a uma maior espiritualidade.
V – O segundo poema revela a estrutura poética em que Vinícius de Moraes despertou maior comoção no público: o soneto, forma poética em que o autor foi mestre.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I, II e IV b) II, III e V c) III, IV e V d) II, IV e V e) I, IV e V

Seminário do livro Fogo morto, de J. Lins do Rego

SEMINÁRIO DO LIVRO FOGO MORTO, DE JOSÉ LINS DO REGO

Buenas. Aí embaixo estão algumas perguntas que elaborei sobre o livro Fogo morto. Achei que respondendo às perguntas vocês poderiam aprofundar seu conhecimento da obra. Antes de responder leiam o livro, ou, pelo menos, um bom resumo. O gabarito está no final.


1 – Sobre as três personagens que encabeçam as partes do romance Fogo morto, de José Lins do Rego, afirma-se:
I – elas têm em comum o fato de representarem a aristocracia decadente dos engenhos de açúcar.
II – cada uma delas representa uma esfera social diferente, mas igualam-se porque, cada uma a seu modo, retrata a decadência do sistema social erigido em torno dos engenhos.
III – as três apresentam psicoses que revelam quadros variados de loucura.
IV – ligam-se umas às outras pelo parentesco, fazendo o romance constituir, internamente, uma trilogia que retrata a história da família.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) II e III b) II e IV c) III e IV d) I, II e IV e) todas estão corretas

2 – José Lins do Rego foi um dos mais proeminentes escritores da chamada Geração de 30. Sobre os escritores desta geração, é correto afirmar que
a) escreveram textos essencialmente regionalistas, voltados para corresponder aos interesses dos leitores de sua região de origem.
b) escreveram textos regionalistas que, porém, por explorarem a condição essencialmente humana das personagens, alcançaram dimensão universal.
c) escreveram seus romances no período entre 1930 e 1939, após o qual uma nova fase surgiu na literatura brasileira.
d) constituiu-se de um grupo de escritores nordestinos comprometidos em retratar os costumes e a vida do povo do sertão, revelando a condição humana do sertanejo.

3 – Mário de Andrade foi um dos muitos críticos literários que se rendeu à qualidade artística da obra Fogo morto. Segundo ele, os três personagens que encabeçam as partes do livro têm em comum
a) “complexo de inferioridade”
b) “mania de superioridade”
c) “esquizofrenia”
d) “sérios problemas de relacionamento com as esposas, o que desencadeia neles crises nervosas”
e) “um machismo exacerbado que os leva a agredir suas esposas para compensar suas frustrações sexuais”



4 – Antonio Carlos Villaça comparou o romance Fogo morto a uma sonata em três movimentos: “a alegro inicial, com a raiva do mestre Zé Amaro, destabocado, sincero, o andante central com a pasmaceira de Lula de Holanda, e o presto fulgurante, [...] do incrível capitão Vitorino, impetuosa criação.”

Dentre os livros citados abaixo, assinale aquele que também tem uma estrutura comparada a uma peça musical:
a) Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo
b) Violões que choram, de Cruz e Souza
c) Concerto campestre, de Luiz Antonio de Assis Brasil
d) Menino de Engenho, de José Lins do Rego
e) A hora da estrela, de Clarice Lispector

5 – As frases do romance Fogo morto são objetivas, tendo, a maioria, entre uma e duas linhas. Ao invés de vírgulas, o autor prefere o ponto. Além disso, o narrador dá voz às personagens, calcando o texto muito mais nos diálogos do que na narração, dando agilidade às ações. Esta estrutura
a) reforça a configuração modernista do livro atendendo aos preceitos da geração de 22.
b) acentua a incapacidade lingüística das personagens, que não tiveram acesso à educação.
c) facilita a leitura, tornando o texto mais leve e atraente.
d) reforça o caráter dramático da narrativa, aproximando-o a uma peça teatral cujo tema é a tragédia.
e) alimenta o sentido lírico da obra, monumento de concisão estilística.

6 – Na página 58, José Amaro faz a seguinte reflexão: “Nesta terra só quem não tem razão é pobre”. Na página 305, o narrador a reitera, revelando-nos que José Amaro pensa que “Pobre não tinha direito. Quem sabia dar direito aos pobres era o capitão, era Jesuíno Brilhante, era o cangaço que vingava [...]”. A reiteração desta reflexão revela que o autor
a) tinha a intenção de deixar claro que José Amaro estava ficando maluco e por isso repetia suas idéias.
b) reafirma sua crítica a um sistema injusto em que apenas os ricos têm seus direitos assegurados, enquanto os pobres só os têm quando vingados pela marginalidade.
c) cometeu uma falha estética ao repetir idéias iguais modificando apenas a forma como as expressou.
d) quis deixar claro o caráter cíclico de seu romance, pois os fatos se repetem ao longo da narrativa.

7 – Vitorino Carneiro da Cunha é, de certa forma, inspirado num personagem clássico da Literatura Universal. Qual é este personagem?
a) Sancho Pança
b) Dom Casmurro
c) Quincas Borba
d) Hamlet
e) Dom Quixote

8 – Uma constante do Romance de 30 é a crítica aos poderes constituídos. Em Fogo morto, uma das formas desta crítica percebe-se
a) no modo como o narrador descreve a decrepitude e a loucura dos senhores de engenho.
b) nas ações da polícia que, sem conseguir prender os bandidos de verdade, prova sua ineficiência e, de forma patética, espanca e prende o cego e os velhos, cidadãos indefesos.
c) na idealização do cangaceiro, que representa uma referência a Robin Hood, pois rouba dos ricos para distribuir entre os pobres.
d) na totalidade do romance, que desenvolve a temática da decadência dos engenhos, cujo destino é transformar-se num “fogo morto”.

9 – O engenho Santa Fé é, comparado com os demais, pequeno, mas diferencia-se dos outros porque os senhores desfilam num cabriolé e, sobretudo, porque nele há um piano. O piano funciona como um símbolo, que representa
a) o respeito e admiração que seus senhores têm por suas mulheres, as quais tocam o instrumento divinamente.
b) o refinamento cultural das filhas de seu Tomás, que fazia questão de proporcionar a elas uma educação requintada, para fazê-las diferentes de todas as outras e demonstrar seu amor por elas.
c) o luxo do qual usufruíam os senhores do engenho Santa Fé, o qual foi responsável pela sua decadência.
d) o gosto que seu Tomás e seu Lula tinham pela música, a qual proporcionava momentos de muito prazer a ambos quando as filhas de seu Tomás tocavam.
e) cultura, poder e riqueza.

10 – Sobre as mulheres do engenho Santa Fé, afirma-se:
I – são semelhantes às demais, pois representam apenas a condição da mulher submissa, subjugada pela força do marido.
II – as filhas diferenciam-se das dos outros senhores de engenho pela requintada educação que seu Tomás fez questão de garantir-lhes.
III – representam a força da mulher que, quando os maridos adoecem e não têm mais condições de prover a família, tomam para si esta responsabilidade e têm êxito nela.
IV – são personagens planas, que não apresentam complexidade psicológica.
V – a doença de Olívia a iguala à Marta, demonstrando a intenção do autor de mostrar que ricos e pobres, diante da força da loucura, são igualmente, simplesmente, humanos.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e V c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas

11 – Lula de Holanda Chacon é um senhor de engenho culto, bem informado e fervorosamente religioso. Esta caracterização revela a intenção do autor de
a) provar que a fé em Deus e o conhecimento não é capaz de salvar um engenho do seu destino de falência.
b) deixar claro que o conhecimento individual não pode superar uma tendência social, que, no caso do capitalismo, constitui-se na substituição dos engenhos pelas usinas.
c) criticar a classe dominante que, apesar de seu poder, não consegue comandar sua vida pessoal.
d) demonstrar que um homem culto, religioso e rico é tão homem quanto um seleiro, um vadio ou qualquer outro, e deixar clara sua posição de que nenhum homem é melhor do que outro.

12 – Luís, o filho de Vitorino, representa:
a) o homem da cidade, muito mais humano do que as criaturas animalizadas do sertão.
b) o homem do sertão que, ao mudar-se para a cidade grande, é corrompido e se degrada.
c) a possibilidade de uma vida melhor fora do sertão, num ambiente que não exige das pessoas tentarem demonstrar que são o que não são, como seu pai faz o tempo todo.
d) a crença do autor de que o homem humilde pode alcançar pelo trabalho a realização de seus sonhos, independente da classe social a que pertence.

13 – Observe os itens a seguir:
I – “Não possuía nada e se sentia como se fosse senhor do mundo.” p. 396
II – “Voltava mais uma vez à sua mágoa latente: o filho que não viera, a filha que era uma manteiga derretida.” p. 56-57
III – “Já ia perto de casa. Lá encontraria a mulher e a filha, toda a desgraça de sua vida.” p. 81
IV – “A sua mulher teria também medo dele? Estaria assim tão monstruoso que espantasse o povo?”
V – Mesmo tendo apanhado a ponto de ficar desfalecido, quando levanta, afirma que retornará à luta: “Um homem que se preza não deve se entregar.” p. 400

Dentre os itens acima, referem-se ao capitão Vitorino Carneiro da Cunha:
a) I e III b) I e V c) III e IV d) II e V e) n.d.a.

14 – Sobre José Amaro, afirma-se:
I – tem clara semelhança com o personagem Dom Quixote, criação de Miguel de Cervantes.
II – não se conforma com sua condição de inferioridade, e vê a ajuda que dá aos cangaceiros como uma possibilidade de recuperar sua dignidade.
III – sente-se mal, pois não conseguira a mesma glória no trabalho que seu pai alcançara, tendo este feito selas inclusive para o imperador.
IV – não se conforma com a doença da filha e, por espancá-la, acaba abandonado pela esposa, que o teme como se ele estivesse possuído pelo demônio.
V – torna-se uma espécie de “lobisomem” após ter feito um pacto com o demônio.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e IV c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas

15 – Sobre Lula de Holanda Chacon, afirma-se:
I – representa a aristocracia decadente dos engenhos de açúcar.
II – representa o homem culto que, apesar de seus conhecimentos e da dedicação ao trabalho, não consegue evitar a falência de sua propriedade.
III – apesar de toda a riqueza, devoção religiosa e cultura, acaba como os outros personagens principais do livro: arruinado e louco.
IV – representa o patriarca poderoso que, com pulso firme, comanda seus escravos, sua propriedade e sua família.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e IV c) III e IV d) I, II e IV e) n.d.a.

Gabarito
1 a 6 b 11 d
2 b 7 e 12 c
3 b 8 b 13 b
4 c 9 14 b
5 d 10 b 15 a

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Seminário Porteira fechada, de Cyro Martins

MARTINS, CYRO
PORTEIRA FECHADA



Capitão Fagundes, logo no começo do livro, está ocioso olhando as prateleiras vazias. Ele é um grosso, do tipo que bate na mulher, a Fausta; eles também têm filhos.
O povoado onde vivem é extremamente pobre, miserável.
Morre João Guedes – é assassinado ou suicidara-se? Volta ao passado para contar a história dele. Ele tem cinco filhos, dos quais apenas um é menino.
É expulso do pedacinho de chão do qual era arrendatário. O negócio da venda se deu sem o Guedes saber.
A mulher parece ser mais vivaz do que ele.
O seu Bento, que vendera a terra do Guedes para o Júlio Bica, suicida-se acossado pelas dívidas. Nessa, o ruim é o comprador da terra; o Bento tinha dívidas com ele e por isso foi obrigado a vender a terrinha do Guedes para saldá-las.
Guedes se dispõe prontamente a ajudar a família.
No começo dos capítulos há sempre uma referência ao velório do Guedes, ou, pelo menos, à sua morte.
Com o suicídio do Bento e a narrativa deslocando seu eixo central para ele, começo a pensar que o Guedes também suicidou-se.
Notar a quebra do tempo cronológico.
Notar também as questões políticas: o sobe e desce no poder.
O chefe, coronel Ramiro, depois que perdera o poder passou a freqüentar a igreja, para ao menos ser olhado pelos outros.
A esposa do Guedes é mais instruído do que ele, e o que ela ensina aos filhos, ele, sem querer, acaba “desensinando”. Maria José e o marido foram amparados pelo esposo de uma amiga dela, a qual (esta prima) não gostou de que ele o tenha feito. Notar isso: a parente da Maria José critica o marido, que não os conhece, por lhes ter ajudado, a eles que eram parentes dela.
Querubina, a prima, mostra-se arrogante e até brutal com Maria José, deixando bem clara a diferença de classe social que há entre elas. Ela até previne a filha dos piolhos que as primas podem ter.
Notar que o autor remete a isso literalmente: diferentes classe sociais.
Notar, por outro lado, o desejo de Maria José de ter o que Querubina tem.
O casal percebe logo o tamanho das dificuldades que terão pela frente, ele até mais do que ela, que ainda está impressionada. Todos os produtos são mais caros na cidade; o custo de vida é elevado.
Fagundes dorme só, quer dizer, na mesma cama de Fausta, porém Fausta não se deita mais COM ele: o casal, depois que ele ficara arruinado, só fala enquanto está brigando. NOTAR A RELEVÂNCIA DO DINHEIRO.
Fagundes anda atormentado pelas recordações de seu passado.
Guedes se torna ladrão e negocia seus furtos (peles de ovelha – NOTAR A MEDIOCRIDADE DAS COISAS QUE FURTA) com o Fagundes.
Notar que ele não vai decaindo, ou melhor, o narrador não expõe sua decadência, ele simplesmente apareceu um dia com o produto do roubo e foi vendê-lo ao Fagundes.
Uma das filhas (Isabel) foge com o namorado (fuga fruto da esperança de uma vida melhor), filho do Fagundes.
“Ultimamente, a própria Maria José o instigava ao furto, acossada pela pobreza.” 70 Uma página depois, ele é preso.
Notar que todos os homens casados parecem detestar suas esposas, as quais igualmente os detestam.
Maria José, depois de muito hesitar, resolve pedir ajuda à prima. Querubina resolve-se a ajudá-la muito mais pelo que os outros iriam pensar se ela não o fizesse do que por compaixão.
Querubina não gosta do marido, principalmente do jeito que ele volta do clube: sempre tarde e bêbado, ou, pelo menos, além de tarde tonto.
Todo mundo é muito parecido.
Querubina, tentando matar dois coelhos com uma cajadada só, quer dar a defesa do caso do Guedes para o noivo da filha, que já é formado em Direito mas ainda não advoga. Porém ele é o filho do fazendeiro que o Guedes roubou. É um playboizinho, um inútil filhinho de papai.
Querubina quer “fazer um homem daquele almofadinha”. 84
Ele, obviamente, recusa para não desafiar o papai.
Notar que a política é um mero jogo de interesses e troca de favores.
Até o Hélio, o almofadinha, vai receber uma nomeação como procurador.
João Guedes acostuma-se logo com a cadeia, parece até preferi-la.
“João Guedes em pouco tempo adaptara-se à vida na cadeia, que não lhe parecia das piores. Gozava ali de uma sensação de segurança de que havia muito se via privado. Prozeava com os outros presos, enchia mate para os soldados, pitava, comia e dormia. De cada vez que a Maria José ia vê-lo, achava-o mais arribado”. 90
Quando sai da prisão, fica muito angustiado, pois saía de uma prisão para outra pior. “Não haveria meio de voltar pra lá, pra cadeia?” 90
Na volta para casa, um ataque faz uma das filhas, a Tita, expirar. Isso foi precipitação do autor, ficou muito artificial.
Como a menina morrera de tuberculose, todos se afastam da família, e os trabalhos de costura da Maria José tornam-se ainda mais escassos.
Querubina manda-lhes diariamente UM litro de leite.
Guedes vende os arreios. É agora, definitivamente, um gaúcho “de a pé”. Notar que isso é um insulto à imagem que ele tinha do gaúcho. É o que de pior lhe poderia acontecer. É a perda de si mesmo, de sua identidade.
Notar que todos os personagens principais ou são miseráveis, coitados, ou "vermes desprezíveis". Não há meios termos.
Notar o João Biga, sempre vítima de chacotas, zombarias, e injustiças e surras. Ele é o limpador de latrinas.
Fagundes é obrigado pela Higiene a fechar o boliche. Como capanga do Ramiro, fizera muitas barbaridades.
João Biga, súbito, decide cavar para desenterrar um tesouro. Acaba sendo atropelado pelo Hélio, que pensara ter pego um cachorro. O João Biga não morre, apenas fica levemente ferido, sobrevive para continuar sofrendo.
O livro lembra Vidas Secas e O quinze.
Fagundes enlouquece.
No final, o autor volta ao campinho do Guedes, onde nada mais há de humano, “Mas que engorde dava aquela invernada!” 127


Observações: Cyro Martins compõe a trilogia do gaúcho a pé, em oposição ao centauro dos pampas e o monarca das coxilhas. Sem rumo (1937), Porteira Fechada (1944), Estrada Nova (1953).
Essa trilogia, contudo, não é uma seqüência, diz-se trilogia por causa da congruência da temática, isto é, o gaúcho pobre, que não tem onde morar e até mesmo nem o que comer. Ao mesmo tempo que tem aspectos regionalistas, ele, ao colocar esses aspectos numa situação de “crise”, faz uma crítica à sociedade.
Notar o êxodo rural.
O gaúcho que vai sendo empurrado pelas circunstâncias, sem nenhuma possibilidade de tornar-se herói, porque os textos não apresentam uma possibilidade de resolução do problema.
Os problemas, apesar de o autor ter sido psicanalista, não estão no plano psicológico, e sim no plano físico, o que diferencia seus textos dos de Dyonélio Machado, sobretudo de Os ratos.
Notar a Maria José e a Querubina, que apesar de serem de classes sociais diferentes têm entre si um paralelo. Além do mais, elas são parentes.
João Guedes não tinha consciência da sua exploração quando estava no campo: ele tinha o que comer, então estava bom, ou pelo menos, era o bastante.
O Fagundes explora quem ele pode para manter seu “poder”, pelo menos para satisfazer a sua própria necessidade.

A imagem do gaúcho não nasce na literatura, ela faz parte do imaginário popular do Rio Grande do Sul.

Seminário Concerto campestre, L. A. Assis Brasil

ASSIS BRASIL, LUIZ ANTONIO DE
CONCERTO CAMPESTRE



Major Antônio Eleutério de Fontes, “potentado em terras e charqueador” 5, “três filhos homens, dois netos e uma filha temporã”, tem uma orquestra pessoal, escravos e oito léguas de terras, esposa: “D. Brígida de Fontes, redonda como um melão maduro, e cujo azul da barba nascente dava-lhe um aspecto de coisa mitológica, imperava com um simples olhar sobre os filhos homens” 5
O livro começa descrevendo as personagens, aproveitando já o primeiro concerto que narra. Ao anoitecer, começa o baile.
O major nem sempre fora rico: “construíra fortuna aproveitando a sorte e armando situações irreversíveis para seus devedores.” 9
A orquestra começou com dois índios, os quais conquistaram a admiração do major. Depois, só fez crescer. Os índios, depois, desapareceram sem rastros, “ou por serem hostilizados pelos recém-vindos, ou ainda pela vocação nômade” 12
O Maestro é “um mulato claro corpulento demais para a função e com o rosto picado de antigas varíolas, cujo dom era saber os desejos do Major.” 7 Fora despachado pelo vigário por ter se envolvido em luxúria; o vigário gostava dele e por isso o recomendou ao Major para reger os músicos que este abrigava. “Resolveram esquecer seu nome, e, por sugestão do vigário, passaram a chamá-lo de Maestro.” 14
O Major e o Vigário vão ver a “videira do fantasma”, num lugar ermo, meio místico. 18 “O tempo se transtornara, e uma garoa gélida começou a cair. – E dizer que há pouco estávamos no verão, Major. Coisas estranhas acontecem por aqui.” 18-19
O Vigário sugere para a orquestro o nome Lira Santa Cecília. 20
A mulher do Major é contra tudo, principalmente contra a orquestra. “Como ele entrava na idade em que um homem descobre que é melhor suportar uma esposa difícil do que entediar-se com discórdias, não se importou.” 22
O Maestro transa com uma cozinheira. Ela é mandada embora e ele recebe aviso de que esta primeira fora a última vez.
A orquestra fica famosa. 26
Toca até num enterro. 27
Clara Vitória, filha do Major, a mais Angélica das moças: “se havia algo de certo na vida, que a empolgava até latejarem as têmporas e doerem os ossos, fazendo com que perdesse a fome e até a palavra, era a sua paixão pelo Maestro.” 28
O quarto de Clara Vitória é ao lado do do Maestro, e ela pode espiá-lo por uma fresta na parede, 30, e ouvi-lo. Mas ela diz que não escuta nada... 32
NOTAR que o tempo não é cronológico.
Ela, a Clara Vitória, faz guerra contra o Maestro. 35 Ela sequer sabe ler, só sabe bordar e coser.
Rossini é o rabequista principal, e ajuda o Maestro, embelezando a orquestra com sua racionalidade septuagenária. Ele diz que o amor é um animal que nos ataca, “mas não nos devora”, e já sabe que o Maestro apaixonou-se pela menina filha do Major.
Clara Vitória fora quem denunciara a cozinheira, e defendera o Maestro, que fora seduzido pela negra. 48
Silvestre Pimentel é o pretendente de Clara Vitória, o preferido de D. Brígida. “Era um homem consciente de sua ignorância.” 51
Notar que os episódios são recortados, sempre sob nova perspectiva, como em As virtudes da casa. Ex.: o primeiro concerto.
56 Resolve-se o casamento de Clara e Silvestre, arquitetado por D. Brígida. O rapaz é rico e tem um filho com uma peona.
Os dois filhos solteiros do Major são até agora insignificantes na história. 60
E, súbito: “e se o irmão já soubesse que ela, havia tempo, todas as noites, saía da cama, apagava a vela, e como uma sombra entre as sombras, se esgueirava para fora da casa e entrava no quarto de hóspedes e deitava-se com o Maestro até madrugada alta?” 61
O Major percebe que D. Brígida está obrigando o fracote Silvestre a tomar coragem para pedir a filha em casamento. 72
No 3 volta-se no tempo para acompanhar o flerte entre o Maestro e a menina.
Rossini antecipa ao Maestro a tragédia, final de toda ópera. 79-80
83 – Silvestre desmaia quando o Vigário diz que ele é o “prometido” de Clara Vitória. Isso ocorreu na missa, na frente de um monte de gente. Ele é mesmo um paspalho. Chega a ser um exagero sua fraqueza. Clara Vitória o acompanha para ajudá-lo.
O Maestro pensando em si e na menina: “há uma força imensa a separá-los, mas não conseguirá mudar o destino de seu amor.” 84
85 Ela se sabe grávida. OS FINAIS DE CAPÍTULO TÊM REVELAÇÕES SÚBITAS. É VIBRANTE, EMPOLGANTE, EMOCIONANTE!
Rossini era o conselheiro.
88 O Maestro sente-se discriminado pela cor, porque percebe o que pensam e não dizem sobre sua pele.
Rossini compara o amor às fases da lua: “iniciava cheio e brilhante, para depois ir minguando, minguando, até desaparecer entre as nuvens.” 89
O Maestro é de Minas, não é gaúcho.
A ama. Personagem que sabe de tudo, tem personalidade forte como D. Brígida, e todos se admiram de que duas mulheres assim se entendam. Siá Gonçalves é o nome dela. 91
92 O Maestro atina com a gravidez de Clara Vitória.
96-97 Clara Vitória se nega a participar da confissão com o Vigário.
Na 99 é que narra a orquestra no enterro mencionado no começo, do Barão tio do paspalho.
Na missa do enterro, Clara Vitória acolhe o Afilhado, filho do Silvestre, já aguçados seus instinto de mãe. 102
105-106 O Maestro, à noite, a leva para passear. A surpresa que preparara é a orquestra tocando só para ela a SUA música. Ele diz que sabe. Ela fica apavorada, tudo lhe lembra a morte. 107
Ela acha que o pai vai matá-la, conforme prometera quando chicoteara o filho mais velho que engravidara uma moça.
Ela não ia mais ao quarto do hóspede. Na 109 então ele é quem vai ao quarto dela. Vendo-a, ele recua; não a queria em sacrifício, a desejava livre, e sabia que a teria de volta em breve. “Ficaria à espera, pois a paciência é a qualidade de quem ama.” 110
111 Silvestre tornara-se um “outro homem”, e já se convencera de que Clara Vitória seria a esposa certa.
115 O padre tem um pressentimento. Aqui é o que estava acontecendo nas páginas iniciais, o concerto campestre. “E se sugerisse antecipar o casamento?”
Clara está pálida no baile. O padre a leva para o quarto. Ela se confessa a ele, deixando-o apavorado. “o Maestro, por quem tanto fizera e que traíra sua confiança.” 117
O padre Vigário pede a Silvestre que antecipem o casamento. 121
Os pais da menina não aceitam a antecipação. 124
125 A mãe atina com a gravidez e espanca a menina. 126
O pai vai matar Silvestre. Ele o fere, mas vai embora sem confirmar sua morte, e ele estava vivo.
A menina é expulsa de casa, para o boqueirão ermo do “fantasma”.
“A menina não reclamava, não se desesperava: já não obedecia às ordens do pai, mas ao destino.” 133
O enxoval que demorara meses a ser coxido queima em instantes, incendiado pelas mãos do Major.
Não será fácil para o Maestro salvá-la. Ele nem sequer consegue chegar até lá. 138
D. Brígida não sabe o que pensar. Sofre. 140 “Dormia mal, exaltada por pesadelos de morte.”
O Major não tem mais gosto por nada, nem por sua orquestra, que antes o empolgava tanto. 140
O Maestro, Rossini e os demais são despedidos pelo Major. 142
Silvestre Pimentel também parte, levando o filho e a tia. 144
O Maestro e Rossini conseguem emprego em Porto Alegre. 144, submissos à Igreja. Rossini arruma empregos em cabaré e bandas para os demais músicos, meio paizão de todos. 145
146-147 – Rossini leva o Maestro às putas, e ele transa com uma delas.
Todos deixam de ir à estância, menos o Vigário. 148
“o Major pusera homens vigiando a trilha.” 149
Desfaz-se a amizade entre o Major e o Vigário. 149
O Maestro padece de profunda depressão. 150 Transa nove vezes com Paulina. Na décima, adoece.
152-153 Clara Vitória cuida do boqueirão, arruma a casa como pode, conformada.
O Major começa a tresvariar, aos poucos enlouquecendo. “D. Brígida de Fontes caía num pasmo estúpido, e num dia chegou à conclusão de que tudo aquilo era muito pesado e inextricável para o que podia perceber da vida.” 154
Clara Vitória deu à luz uma menina. A parteira chega para cortar-lhe o cordão umbilical. A menina é levada para uma ama de leite.
Clara se torna uma sombra do que era, e começa a desaprender a falar. 158
158 É UMA PÁGINA ÓTIMA – O MUNDO CONTINUA MESMO QUE ELA NÃO DIGA NADA.
“Clara Vitória, como quem se desfaz de uma pele muito antiga, perdia a noção de si mesma.” 159
O Maestro e Rossini são despedidos por terem tocado a música DELA na Igreja.
Resolver recompor a Lira e retornar à estância. 164 O Major os aceita de volta. Mas as pessoas se negam em ir à estância para ouvi-los, inclusive o Vigário, furiosos com o modo como o Major tratou a filha.
IMPORTANTE: eles estão furiosos com o castigo brutal que o Major dera à filha, e não com a desonra desta. 167
O Vigário acaba indo, e é o único, afora os de casa. 170
Precipita-se uma tempestade de sangue. O Maestro aproveita a bulha para alcançar VÊ-LA. 173 O Major suicida-se. Rossini aplaude, com seu riso irônico e superior.
Após a tempestade, enquanto o sol novamente viceja, “Clara Vitória entregou-se ao primeiro beijo de todos os beijos de sua longa vida.” 174


Personagens: Major, D. Brígida, Clara Vitória, irmãos, Maestro, Rossini, a Lira Santa Cecília, Silvestre Pimentel, Vigário.
Espaço: notar o antagonismo do pastoralismo X rios de sangue do charqueamento.
Tempo: cíclico, cronológico em um ano.
Foco narrativo: 3ª pessoa que mantém suspense sobre os fatos, construindo as partes a partir de um todo inicial.
Ação: há muita ação, como num teatro, numa ópera. O texto lembra os movimentos de um concerto. NÃO ESQUEÇAM DISSO: RECIPROCIDADE ENTRE CONTEÚDO E FORMA!!!