MACHADO, DYONÉLIO
Os ratos
1934
Naziazeno está devendo para o leiteiro 53 mil-réis.
Notar a esposa e os vizinhos, que espiam suas brigas. A esposa, Adelaide, não trabalha. Naziazeno tenta convencer a mulher, e também a si mesmo, de que o leite é tão supérfluo quanto a manteiga e o gelo, cujo fornecimento fora anteriormente cortado. O leite é seu último luxo.
Ela: “tu não vês que uma criança não pode passar sem leite?...” 10
Naziazeno ama o filho.
Naziazeno também ama a esposa, com seu jeito tímido, mas “A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 26
“Também a sua mulher com os outros é tímida, tímida demais. Fosse a mulher do amanuense, queria ver se as coisas não marchariam doutro modo. Ela se encolhe ao primeiro revés. Foi esse ar de ingenuidade, de fraqueza que o tentou, bem se recorda. E como não havia de se recordar, se é ainda esse mesmo ar de fraqueza, de pudor, de coisa oculta e interior que lhe alimenta o amor, a voluptuosidade? Mas é um mal na vida prática. Ele precisava de um ser forte a seu lado. Toda a sua decisão se dilui quando vê junto de si, como nessa manhã, a mulher atarantar-se, perder-se, empalidecer. É o primeiro julgamento que ele recebe [...] A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 19
Notar que o que se repete na cabeça de Naziazeno é a esposa repisando o que o leiteiro dissera: que iria deixar de trazer o leite se não pagassem. 20
Naziazeno mortifica-se por ter de pedir dinheiro adiantado ao chefe. Já pedira uma vez para pagar injeções necessárias ao filho doente.
O Duque: “um batalhador. Tem a experiência... da miséria.” 24
“Além do mais, um jornal é útil, numa ‘situação dessas’. É pelo menos o que pensa o Duque, que sempre percorre certos anúncios do jornal... Mas não, ele não saberia tirar coisa nenhuma do jornal.” 26
“ele faz (desta vez, como de outras) deste negócio – o ponto único, exclusivo, o tudo concentrado da sua vida. Assim foi quando da volta do filho à saúde.” 30
ANTES DE FALAR COM O CHEFE: “A luzinha, Naziazeno, de volta do cais, ainda a acompanha, no seu pisca-pisca, até que, num ângulo de rua, ela desaparece, oculta no casario.” 30 PLATÃO, DE NOVO, COM SUA ALEGORIA DA CAVERNA.
O livro também mostra o modo como o funcionalismo público opera (ou não opera) no Brasil. “O caminho é aberto entre maquinarias, materiais, ferros. Muita coisa se deteriora à intempérie.” p. 34
“O trabalho de Naziazeno é monótono: consiste em copiar num grande livro cheio de ‘grades’ certos papéis, em forma de faturas. É preciso antes submetê-los a uma conferência, ver se as operações de cálculo estão certas. São ‘notas’ de consumo de materiais, há sempre multiplicações e adições a fazer. O serviço, porém, não exige pressa, não necessita ‘estar em dia’. – Naziazeno ‘leva um atraso’ de uns bons dez meses.” p. 32-33
Ele não tem nada para empenhar, exceto a roupa do corpo.
O relógio da prefeitura “parece-lhe uma cara redonda e impassível...” 37
Saiu para aconselhar-se com o Duque, porque o diretor da repartição não estava. Encontra Alcides, que parece tentar ajudar. Aconselha a não édir dinheiro para o chefe.
O Fraga é o vizinho de Naziazeno.
Notar a grande quantidade de reticências...
Naziazeno se pergunta porque não aproveitava o tempo para fazer biscates: “Mas onde estão os negócios? Onde estão? Ele nunca ‘via nada’, era a aptidão que lhe faltava...”44
Alcides toma uma atitude: jogará no bicho enquanto Naziazeno tenta emprestar dinheiro com o diretor.
Naziazeno sabe que se pedir aos colegas não receberá. “’vê-se’ no meio da sala, atônito, sozinho, olhano pra os lados, pra todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com pés de ratos...” Eles também são como ratos, todos eles.
“Aquele canto de sarjeta tem o que ele nunca mais encontrou no seu mundo: o repouso feliz, o aconchego humano, seguro e imutável. Ele quer ir!” 47
O diretor da repartição recusa o adiantamento na frente de todos os colegas, que riem. “Naziazeno espera que ele lhe dê as costas, vá reatar a palestra interrompida, aquelas observações sobre a questão social, comunismo e integralismo.” p. 48 (notar a ironia) O Diretor dissera o NÃO olhando para todos, mas sem fitar Naziazeno.
“Tudo mais desapareceu da cabeça de Naziazeno: só ficou o diretor, com o olhar aceso e a cara de pedra, dizendo-lhe aquilo. Os risos do Dr. Rist e dos outros, as fisionomias enrugadas de prazer, haviam-lhe chegado ao olhar e à compreensão como coisas soltas no espaço, sem ‘fundo’ e sem meio ambiente; curvada sobre ele, dura e estranha, a pessoa do diretor enche-lhe toda a visão...” 50-51
“Idealizar outro plano? Tem uma preguiça doentia. A sua cabeça está oca e lhe arde, ao mesmo tempo.” 53
Vai à casa o Andrade tentar cobrar uma comissão que este deve ao Alcides. 58 Tivera esperança de conseguir... Na 60, ela desvanece, antes de chegar...
59
68 Ele está pensando novamente no almoço...
69 Decide ir falar com Mister Rees, que era de quem Alcides podia receber aquela tal comissão, conforme o Andrade lhe dissera. Mas o Rees está viajando, no Rio, e Naziazeno fica aliviado, pois ficara nervoso, não saberio o que dizer se ficasse diante dele.
Está faminto. “É preciso comer...” 70
O tempo é marcado como o pensamento (descontínuo). Repare na angústia presente na estrutura: RECIPROCIDADE ENTRE CONTEÚDO E FORMA, ou seja, o narrador tem a intenção de nos fazer sentir a angústia por que passa o personagem.
Naziazeno pede dez mil réis a um amigo para o almoço. Recebe apenas cinco. Pensa em jogar os cinco para vê-los multiplicarem-se. Pensa em tomar um café, mas acaba pedindo água.
Deposita tudo no 28. GANHA. Recebe 75 mil réis. “Tudo resolvido assim num segundo... Fita a cara do croupier, olha pra os lados!... Estará mesmo neste mundo? neste dia?...”
Compra fichas. Acaba perdendo tudo. A roleta conclui seu ciclo.
O capítulo 13 é o do jogo. Perfeito.
Pede emprestado a mais outro, que também lhe nega. 96
99
101 O sol como “moeda em brasa”.
Notar que enquanto Naziazeno, faminto e angustiado, caminha pela cidade, vai reparando no luxo das casas e dos automóveis. E ele com fome. Angustiado e faminto, cercado pelo luxo que é dos outros.
Reencontra com Alcides. Fica tonto. Está faminto, é natural que fique tonto. Pede apenas um cafezinho.
Consegue falar com Duque.
“Nazizazeno ‘vê’ o sol, uma moeda em brasa suspensa num vapor avermelhado e espesso.” 109 Notar que o verbo ver, quando atrivuído a Naziazeno, aparece entre aspas.
“Duque volta-se inteiramente para o lado de Naziaaeno. Avança-lhe um focinho sereno e atento. O olhar tem uma fixidez meio triste.” 111
“Ao seu lado, Naziazeno ergue-lhe um focinho humilde. Vai fazendo gestos de aquiescência com a cabeça.” 114
“Os quadros mais disparatados passam pela imaginação de Naziazeno. [...] É a seu pesar que essas imagens se metem na cabeça, porque ele não quer pensar... não quer pensar...” 114
Ele recomenda um agiota. O agiota, ao qual dirigira-se o Alcides, não empresta.
O “dr.” Mondina, amigo do Duque, também não empresta.
Duque vai com Naziazeno a outro agiota. Este também não empresta. Vão a outro. Que também não empresta.
Notar que Duque e Alcides tentam ajudar Naziazeno.
Vão desempenhar um anel e tentar empenhá-lo por uma quantia maior, mas a casa de penhores já está fechada.
Notar o ridículo dos quatro, Duque, Mondina, Alcides e Naziazeno, entrando na casa do dono da casa de penhores para propor-lhe negócio.
Agora andam os cinco para a casa de penhores. Resgatam o anel com dinheiro emprestado por Mondina.
Tentam empenhar o anel num joalheiro. Não conseguem: ele recusa o negócio.
Naziazeno pensando na mulher: “o seu ar de pobreza, aquele focinho quieto e manso que vem ali a seu lado, tiram-lhe qualquer ilusão. Um freio e um amargo sobem-lhe pelas vísceras acima...” 117
Duque e Naziazeno vão pedir dinheiro ao Fernandes. Depois ao Assunção. De um agiota a outro.
118
121
Notar a determinação de Alcides e Duque em ajudar Naziazeno. O Mondina vai junto, esperando lucrar alguma coisa com a desgracença do outro.
Chegam à casa do agiota Martinez. 126 Esperam no topo da escada, pisoteando-se. Acompanham-no à casa de penhor.
Uma mole, um tropel. Recuperam o anel.
“Martinez toma o rumo da praça. Lá vão os seus pés, num martelar ligeiro e miudinho.” Ver página.
Vão ao Dupasquier empenhar o anel. Não dá certo.
A transação está difícil. O “dr.” Mondina não tem interesse em outro negócio pois parece um truque, ele quer ganhar com garantias...
“É um sono o que tem agora Naziazeno. É só um sono...” 142
143 Naziazeno chega em casa já noite, com os embrulhos. A mulher pergunta-lhe do dinheiro. Ela enrubece com a manteiga. Ele também reavera o sapato dela, há muito tempo no sapateiro. Ele trouxe também queijo e um brinquedinho para o filho, leões, símbolo de ressurreição (Naziazeno – Nazareno, ele um Cristo na era do capitalismo). O brinquedo é de criança pequena, mas o menino já tem quatro anos. Contudo quatro anos desnutridos que mal valem por dois.
“- Tive um dia brabo hoje, Adelaide.” 151 “- Depois te conto. Não sabes como m custou esse dinheiro. Mas está aqui.”
Arranjara emprestado com o Duque e o Alcides. Não tem prazo para devolver.
156 Agora ele reflete, tranquilo.
158 Desiste de ler alguma coisa.
159 A dor, e ele não conseguira saber o que era aquela “luzinha”.
160 De novo a claridade. Parece Insônia, do Graciliano. 162 O relógio, a modorra. Ele não têm relógio em casa.
A mulher ronca. Adormecera imediatamente.
Notar que não houve nenhum carinho por parte de nenhum dos dois antes de dormirem, nem em momento algum. Naziazeno sente-se sozinho deitado, ainda que ao lado da esposa, “num temor vago e pueril das surpresas das sombras, da solidão...” p. 130
Naziazeno sente que quer bem ao leiteiro por ter-lhe proporcionado aquela satisfação, mas sobretudo por permitir-lhe perceber que tinha amigos que se dispunham em valer-lhe nas horas de aperto.
p. 174 Naziazeno lembra que um dia, à hora do almoço, encontrara o leiteiro em casa... Notar seu ciúme e desconfiança.
Naziazeno lembra que o Mondina não tinha troco, só levava consigo notas graúdas (quando pegara o anel).
“É estranho: um cansaço tão grande e não conseguir conciliar o sono...” 163
Tenta fixar a ideia num círculo, “um círculo luminoso”. 165
165
“Amanhã vai falar à mulher. Vai ver se dão um jeito naquela luz. É ela que não o está deixando dormir.” 167
“O que é que vai fazer para dar uma solução definitiva à sua vida? O que é?” 168
“Sente o estômago repleto, a cabeça fortalecida.” 172
A mulher NANA o filho de quatro anos! Porque ele principiara um choro tímido.
“O zumbido dum mosquito descreve um arco (um arco!) por cima da su cabeça...” 174
“Um jornal... Duque sabe tirar partido da leitura dum jornal... Certos anúncios... Não pode imaginar como. / Ele não saberia fazer nada com o jornal.” 178
“Duque então se volta para Naziazeno. / O seu focinho é sereno. O dorso meio curvo, um tanto baixo...” 181
183 Descrição do local onde Naziazeno mora.
Notar que, tendo o dinheiro, há outra odisseia para trocá-lo e obter os miúdos. Emprestaram 65 mil-réis para Naziazeno.
Capítulo 26 – Naziazeno se lembrando do dia.
Quase no final, enquanto Naziazeno se esforça para conseguir dormir, ouve (ele ouve) o guincho miudinho de ratos. “A casa está cheia de ratos...” 190
Notar que ele quer levantar-se, mas hesita. Acaba não levantando. “Os ratos vão roer – já roeram! – todo o dinheiro!...” 190 Esta parte é perfeita, ele só escuta, assustado mas impotente.
191
O leiteiro despeja o leite.
“Fecham furtivamente a porta... Escapam passos leves pelo pátio... Nem se ouve o portão bater...
E ele dorme.” 157
ESTE FINAL É ABSOLUTAMENTE PERFEITO.
Observações:
28 capítulos que narram um único dia.
“nota-se que a história se subjetiviza segundo a perspetiva da personagem, mediantea narração em estilo indireto livre, que molda o mundo a partir do prisma de quem o vê.” 201 “existência como dolorosa caminhada.” 202
NOTAR A CIDADE: “Ela pode ameaçar Naziazeno, como um bloco inteiriço ou pelas brechas do tempo que se escoa; por vezes, é o lugar da solidão e da estranheza, da rua que parece outra, do deserto onde ele se perde e sonha em vão com o retorno à casa.” 202
“A alegoria política é só uma das possibilidades de significação da narrativa. Mais radical é a metáfora da existência degradada pela alienação [...], pela perda da própria substêancia humana, que acaba por reduzir o homem à condição inferior, à deformidade social e psicológica, confundindo-o, enfim, com o animal mais vil.” 207
Sugere que Naziazeno é “o que” se dará com Fabiano quando este chegar à cidade, conforme sonhava.
Ao contrário da maioria dos outros livros do gênero, em Os ratos o protagonista tem um emprego.
Notar os círculos, inclusive a roleta do cassino, o sol como moeda em brasa, o voo do mosquito.
O mito de Sísifo, da mitologia grega (fazer todos os dias a mesma coisa).
Notar os símbolos.
Drama da pequena burguesia brasileira.
Violação contínua da personalidade.
Narrativa sobre o indivíduo anônimo.
Uma nova ficção urbana.
Monotonia e angústia impressa na forma do texto: reciprocidade.
Profundo desgaste existencial da personagem.
Os ratos (isto, aquilo, este, aquele etc.) e o dinheiro como limites na vida de Naziazeno.
A busca pelo imediato e a impossibilidade de perceber a profundidade do drama: alienação.
A moeda e o trabalho (o sistema) anulando o sujeito.
Notar que Naziazeno não é paupérrimo, o que torna a crítica mais aguda, porque o autor não está falando dos extremos, e sim da classe média da época.
Notar também que o problema é particular, não é a seca ou a chuva, refere-se ao indivíduo.
Naziazeno não é um tipo, porém os personagens que estão à sua volta são.
Notar também que parece haver cenas em câmera lenta (talvez uma influência do cinema (?).
Não se resolve o problema da existência, somente o do leiteiro.
Os ratos
1934
Naziazeno está devendo para o leiteiro 53 mil-réis.
Notar a esposa e os vizinhos, que espiam suas brigas. A esposa, Adelaide, não trabalha. Naziazeno tenta convencer a mulher, e também a si mesmo, de que o leite é tão supérfluo quanto a manteiga e o gelo, cujo fornecimento fora anteriormente cortado. O leite é seu último luxo.
Ela: “tu não vês que uma criança não pode passar sem leite?...” 10
Naziazeno ama o filho.
Naziazeno também ama a esposa, com seu jeito tímido, mas “A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 26
“Também a sua mulher com os outros é tímida, tímida demais. Fosse a mulher do amanuense, queria ver se as coisas não marchariam doutro modo. Ela se encolhe ao primeiro revés. Foi esse ar de ingenuidade, de fraqueza que o tentou, bem se recorda. E como não havia de se recordar, se é ainda esse mesmo ar de fraqueza, de pudor, de coisa oculta e interior que lhe alimenta o amor, a voluptuosidade? Mas é um mal na vida prática. Ele precisava de um ser forte a seu lado. Toda a sua decisão se dilui quando vê junto de si, como nessa manhã, a mulher atarantar-se, perder-se, empalidecer. É o primeiro julgamento que ele recebe [...] A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 19
Notar que o que se repete na cabeça de Naziazeno é a esposa repisando o que o leiteiro dissera: que iria deixar de trazer o leite se não pagassem. 20
Naziazeno mortifica-se por ter de pedir dinheiro adiantado ao chefe. Já pedira uma vez para pagar injeções necessárias ao filho doente.
O Duque: “um batalhador. Tem a experiência... da miséria.” 24
“Além do mais, um jornal é útil, numa ‘situação dessas’. É pelo menos o que pensa o Duque, que sempre percorre certos anúncios do jornal... Mas não, ele não saberia tirar coisa nenhuma do jornal.” 26
“ele faz (desta vez, como de outras) deste negócio – o ponto único, exclusivo, o tudo concentrado da sua vida. Assim foi quando da volta do filho à saúde.” 30
ANTES DE FALAR COM O CHEFE: “A luzinha, Naziazeno, de volta do cais, ainda a acompanha, no seu pisca-pisca, até que, num ângulo de rua, ela desaparece, oculta no casario.” 30 PLATÃO, DE NOVO, COM SUA ALEGORIA DA CAVERNA.
O livro também mostra o modo como o funcionalismo público opera (ou não opera) no Brasil. “O caminho é aberto entre maquinarias, materiais, ferros. Muita coisa se deteriora à intempérie.” p. 34
“O trabalho de Naziazeno é monótono: consiste em copiar num grande livro cheio de ‘grades’ certos papéis, em forma de faturas. É preciso antes submetê-los a uma conferência, ver se as operações de cálculo estão certas. São ‘notas’ de consumo de materiais, há sempre multiplicações e adições a fazer. O serviço, porém, não exige pressa, não necessita ‘estar em dia’. – Naziazeno ‘leva um atraso’ de uns bons dez meses.” p. 32-33
Ele não tem nada para empenhar, exceto a roupa do corpo.
O relógio da prefeitura “parece-lhe uma cara redonda e impassível...” 37
Saiu para aconselhar-se com o Duque, porque o diretor da repartição não estava. Encontra Alcides, que parece tentar ajudar. Aconselha a não édir dinheiro para o chefe.
O Fraga é o vizinho de Naziazeno.
Notar a grande quantidade de reticências...
Naziazeno se pergunta porque não aproveitava o tempo para fazer biscates: “Mas onde estão os negócios? Onde estão? Ele nunca ‘via nada’, era a aptidão que lhe faltava...”44
Alcides toma uma atitude: jogará no bicho enquanto Naziazeno tenta emprestar dinheiro com o diretor.
Naziazeno sabe que se pedir aos colegas não receberá. “’vê-se’ no meio da sala, atônito, sozinho, olhano pra os lados, pra todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com pés de ratos...” Eles também são como ratos, todos eles.
“Aquele canto de sarjeta tem o que ele nunca mais encontrou no seu mundo: o repouso feliz, o aconchego humano, seguro e imutável. Ele quer ir!” 47
O diretor da repartição recusa o adiantamento na frente de todos os colegas, que riem. “Naziazeno espera que ele lhe dê as costas, vá reatar a palestra interrompida, aquelas observações sobre a questão social, comunismo e integralismo.” p. 48 (notar a ironia) O Diretor dissera o NÃO olhando para todos, mas sem fitar Naziazeno.
“Tudo mais desapareceu da cabeça de Naziazeno: só ficou o diretor, com o olhar aceso e a cara de pedra, dizendo-lhe aquilo. Os risos do Dr. Rist e dos outros, as fisionomias enrugadas de prazer, haviam-lhe chegado ao olhar e à compreensão como coisas soltas no espaço, sem ‘fundo’ e sem meio ambiente; curvada sobre ele, dura e estranha, a pessoa do diretor enche-lhe toda a visão...” 50-51
“Idealizar outro plano? Tem uma preguiça doentia. A sua cabeça está oca e lhe arde, ao mesmo tempo.” 53
Vai à casa o Andrade tentar cobrar uma comissão que este deve ao Alcides. 58 Tivera esperança de conseguir... Na 60, ela desvanece, antes de chegar...
59
68 Ele está pensando novamente no almoço...
69 Decide ir falar com Mister Rees, que era de quem Alcides podia receber aquela tal comissão, conforme o Andrade lhe dissera. Mas o Rees está viajando, no Rio, e Naziazeno fica aliviado, pois ficara nervoso, não saberio o que dizer se ficasse diante dele.
Está faminto. “É preciso comer...” 70
O tempo é marcado como o pensamento (descontínuo). Repare na angústia presente na estrutura: RECIPROCIDADE ENTRE CONTEÚDO E FORMA, ou seja, o narrador tem a intenção de nos fazer sentir a angústia por que passa o personagem.
Naziazeno pede dez mil réis a um amigo para o almoço. Recebe apenas cinco. Pensa em jogar os cinco para vê-los multiplicarem-se. Pensa em tomar um café, mas acaba pedindo água.
Deposita tudo no 28. GANHA. Recebe 75 mil réis. “Tudo resolvido assim num segundo... Fita a cara do croupier, olha pra os lados!... Estará mesmo neste mundo? neste dia?...”
Compra fichas. Acaba perdendo tudo. A roleta conclui seu ciclo.
O capítulo 13 é o do jogo. Perfeito.
Pede emprestado a mais outro, que também lhe nega. 96
99
101 O sol como “moeda em brasa”.
Notar que enquanto Naziazeno, faminto e angustiado, caminha pela cidade, vai reparando no luxo das casas e dos automóveis. E ele com fome. Angustiado e faminto, cercado pelo luxo que é dos outros.
Reencontra com Alcides. Fica tonto. Está faminto, é natural que fique tonto. Pede apenas um cafezinho.
Consegue falar com Duque.
“Nazizazeno ‘vê’ o sol, uma moeda em brasa suspensa num vapor avermelhado e espesso.” 109 Notar que o verbo ver, quando atrivuído a Naziazeno, aparece entre aspas.
“Duque volta-se inteiramente para o lado de Naziaaeno. Avança-lhe um focinho sereno e atento. O olhar tem uma fixidez meio triste.” 111
“Ao seu lado, Naziazeno ergue-lhe um focinho humilde. Vai fazendo gestos de aquiescência com a cabeça.” 114
“Os quadros mais disparatados passam pela imaginação de Naziazeno. [...] É a seu pesar que essas imagens se metem na cabeça, porque ele não quer pensar... não quer pensar...” 114
Ele recomenda um agiota. O agiota, ao qual dirigira-se o Alcides, não empresta.
O “dr.” Mondina, amigo do Duque, também não empresta.
Duque vai com Naziazeno a outro agiota. Este também não empresta. Vão a outro. Que também não empresta.
Notar que Duque e Alcides tentam ajudar Naziazeno.
Vão desempenhar um anel e tentar empenhá-lo por uma quantia maior, mas a casa de penhores já está fechada.
Notar o ridículo dos quatro, Duque, Mondina, Alcides e Naziazeno, entrando na casa do dono da casa de penhores para propor-lhe negócio.
Agora andam os cinco para a casa de penhores. Resgatam o anel com dinheiro emprestado por Mondina.
Tentam empenhar o anel num joalheiro. Não conseguem: ele recusa o negócio.
Naziazeno pensando na mulher: “o seu ar de pobreza, aquele focinho quieto e manso que vem ali a seu lado, tiram-lhe qualquer ilusão. Um freio e um amargo sobem-lhe pelas vísceras acima...” 117
Duque e Naziazeno vão pedir dinheiro ao Fernandes. Depois ao Assunção. De um agiota a outro.
118
121
Notar a determinação de Alcides e Duque em ajudar Naziazeno. O Mondina vai junto, esperando lucrar alguma coisa com a desgracença do outro.
Chegam à casa do agiota Martinez. 126 Esperam no topo da escada, pisoteando-se. Acompanham-no à casa de penhor.
Uma mole, um tropel. Recuperam o anel.
“Martinez toma o rumo da praça. Lá vão os seus pés, num martelar ligeiro e miudinho.” Ver página.
Vão ao Dupasquier empenhar o anel. Não dá certo.
A transação está difícil. O “dr.” Mondina não tem interesse em outro negócio pois parece um truque, ele quer ganhar com garantias...
“É um sono o que tem agora Naziazeno. É só um sono...” 142
143 Naziazeno chega em casa já noite, com os embrulhos. A mulher pergunta-lhe do dinheiro. Ela enrubece com a manteiga. Ele também reavera o sapato dela, há muito tempo no sapateiro. Ele trouxe também queijo e um brinquedinho para o filho, leões, símbolo de ressurreição (Naziazeno – Nazareno, ele um Cristo na era do capitalismo). O brinquedo é de criança pequena, mas o menino já tem quatro anos. Contudo quatro anos desnutridos que mal valem por dois.
“- Tive um dia brabo hoje, Adelaide.” 151 “- Depois te conto. Não sabes como m custou esse dinheiro. Mas está aqui.”
Arranjara emprestado com o Duque e o Alcides. Não tem prazo para devolver.
156 Agora ele reflete, tranquilo.
158 Desiste de ler alguma coisa.
159 A dor, e ele não conseguira saber o que era aquela “luzinha”.
160 De novo a claridade. Parece Insônia, do Graciliano. 162 O relógio, a modorra. Ele não têm relógio em casa.
A mulher ronca. Adormecera imediatamente.
Notar que não houve nenhum carinho por parte de nenhum dos dois antes de dormirem, nem em momento algum. Naziazeno sente-se sozinho deitado, ainda que ao lado da esposa, “num temor vago e pueril das surpresas das sombras, da solidão...” p. 130
Naziazeno sente que quer bem ao leiteiro por ter-lhe proporcionado aquela satisfação, mas sobretudo por permitir-lhe perceber que tinha amigos que se dispunham em valer-lhe nas horas de aperto.
p. 174 Naziazeno lembra que um dia, à hora do almoço, encontrara o leiteiro em casa... Notar seu ciúme e desconfiança.
Naziazeno lembra que o Mondina não tinha troco, só levava consigo notas graúdas (quando pegara o anel).
“É estranho: um cansaço tão grande e não conseguir conciliar o sono...” 163
Tenta fixar a ideia num círculo, “um círculo luminoso”. 165
165
“Amanhã vai falar à mulher. Vai ver se dão um jeito naquela luz. É ela que não o está deixando dormir.” 167
“O que é que vai fazer para dar uma solução definitiva à sua vida? O que é?” 168
“Sente o estômago repleto, a cabeça fortalecida.” 172
A mulher NANA o filho de quatro anos! Porque ele principiara um choro tímido.
“O zumbido dum mosquito descreve um arco (um arco!) por cima da su cabeça...” 174
“Um jornal... Duque sabe tirar partido da leitura dum jornal... Certos anúncios... Não pode imaginar como. / Ele não saberia fazer nada com o jornal.” 178
“Duque então se volta para Naziazeno. / O seu focinho é sereno. O dorso meio curvo, um tanto baixo...” 181
183 Descrição do local onde Naziazeno mora.
Notar que, tendo o dinheiro, há outra odisseia para trocá-lo e obter os miúdos. Emprestaram 65 mil-réis para Naziazeno.
Capítulo 26 – Naziazeno se lembrando do dia.
Quase no final, enquanto Naziazeno se esforça para conseguir dormir, ouve (ele ouve) o guincho miudinho de ratos. “A casa está cheia de ratos...” 190
Notar que ele quer levantar-se, mas hesita. Acaba não levantando. “Os ratos vão roer – já roeram! – todo o dinheiro!...” 190 Esta parte é perfeita, ele só escuta, assustado mas impotente.
191
O leiteiro despeja o leite.
“Fecham furtivamente a porta... Escapam passos leves pelo pátio... Nem se ouve o portão bater...
E ele dorme.” 157
ESTE FINAL É ABSOLUTAMENTE PERFEITO.
Observações:
28 capítulos que narram um único dia.
“nota-se que a história se subjetiviza segundo a perspetiva da personagem, mediantea narração em estilo indireto livre, que molda o mundo a partir do prisma de quem o vê.” 201 “existência como dolorosa caminhada.” 202
NOTAR A CIDADE: “Ela pode ameaçar Naziazeno, como um bloco inteiriço ou pelas brechas do tempo que se escoa; por vezes, é o lugar da solidão e da estranheza, da rua que parece outra, do deserto onde ele se perde e sonha em vão com o retorno à casa.” 202
“A alegoria política é só uma das possibilidades de significação da narrativa. Mais radical é a metáfora da existência degradada pela alienação [...], pela perda da própria substêancia humana, que acaba por reduzir o homem à condição inferior, à deformidade social e psicológica, confundindo-o, enfim, com o animal mais vil.” 207
Sugere que Naziazeno é “o que” se dará com Fabiano quando este chegar à cidade, conforme sonhava.
Ao contrário da maioria dos outros livros do gênero, em Os ratos o protagonista tem um emprego.
Notar os círculos, inclusive a roleta do cassino, o sol como moeda em brasa, o voo do mosquito.
O mito de Sísifo, da mitologia grega (fazer todos os dias a mesma coisa).
Notar os símbolos.
Drama da pequena burguesia brasileira.
Violação contínua da personalidade.
Narrativa sobre o indivíduo anônimo.
Uma nova ficção urbana.
Monotonia e angústia impressa na forma do texto: reciprocidade.
Profundo desgaste existencial da personagem.
Os ratos (isto, aquilo, este, aquele etc.) e o dinheiro como limites na vida de Naziazeno.
A busca pelo imediato e a impossibilidade de perceber a profundidade do drama: alienação.
A moeda e o trabalho (o sistema) anulando o sujeito.
Notar que Naziazeno não é paupérrimo, o que torna a crítica mais aguda, porque o autor não está falando dos extremos, e sim da classe média da época.
Notar também que o problema é particular, não é a seca ou a chuva, refere-se ao indivíduo.
Naziazeno não é um tipo, porém os personagens que estão à sua volta são.
Notar também que parece haver cenas em câmera lenta (talvez uma influência do cinema (?).
Não se resolve o problema da existência, somente o do leiteiro.
DIÁLOGO:
ResponderExcluirPedro: - O professor Maiquel fez um BLOG muito legal!!
Artur: - Que legal!! Vou entrar também só para ver como está.
Pedro: - Pena que não tem nenhum comentário.
Artur: - NEHUM?!?!?!?!
Pedro: - Vamos lançar a campanha: "Comenta no BLOG do professor"??
Artur: - VAMOS!!!!
Está lançada:
"COMENTEM PARA O MAIQUEL"
(Pedro e Artur)
JAH ADERI À CAMPANHA
ResponderExcluirVAMOS BOMBAR ESSE BLOG!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
uahsuHSUhsuHSUhsuhUASHuhsUHSuhs
(pedro)
EU COMENTEI TBM!!!
ResponderExcluirTERCEIRO MANDA!!!
Haha, aderi à campanha também :)
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