sábado, 5 de dezembro de 2009

MACUNAÍMA, de Mário de Andrade

ANOTAÇÕES E COMENTÁRIOS SOBRE MACUNAÍMA
É uma Rapsódia: soma de temas tirados do povo mas transpostos por um autor culto, segundo definição de Mário.
Quando pequeno, Macunaíma choramingava para conseguir o que queria, e já aos seis anos atazanava as meninas. No mato, transformava-se num príncipe e “brincava” com a mulher do irmão.
“os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem.”
Notar o cômico, o inusitado, o impossível etc.
15 A mãe abandona Macunaíma num deserto porque ele escondera a comida dos irmãos.
“pra mim comer” 16
Jiguê arrumou outra mulher, Iriqui. Macunaíma, quando retorna do deserto, anuncia que a mãe vai morrer, e transa com Iriqui; então Jiguê deixa ela pra ele.
Ele é quem acaba matando a mãe, confundindo-a com uma “viada”, enfeitiçada ela por Anhangá.
20 Macunaíma transa com a Mãe do Mato e se torna “o novo Imperador do Mato-Virgem”.
Macunaíma e Ci brincam brincam. É muito brincar!
“- Ai! Que preguiça...”
“Nem bem seis meses passaram e a Mãe do Mato pariu um filho encarnado.” 21
22 O filho morre envenenado no seio de Ci, sua mãe. De seu corpo nasce o guaraná. Ci sobe pro céu num cipó, e Macunaíma sente saudades.
NOTAR a grande quantidade de cenas, aços; é IMPOSSÍVEL fazer um resumo do livro.
FOLCLORE E LENDAS de todas as regiões, até o Negrinho do Pastoreio. 27
30 Macunaíma embranquece na água empoçada na pegada do pé de Sumé, “do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira.”
31 Chegam em São Paulo.
32 “Eram máquinas e tudo na cidade eram máquinas!” As prostitutas ensinando pra Macunaíma que nada daquilo era bicho: era só máquinas. Ele pega sapinho por ter transado com elas.
Os paulistas são os filhos da mandioca. “A Máquina era que matava os homens porém os homens é que mandavam na Máquina...” 32 Macunaíma depois de muito pensar conclui: “Os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens.” 33
35 Maanape catando os pedaços de Macunaíma, estraçalhado pelo gigante Venceslau Pietro Pietra.
“E foi assim que Maanape inventou o bicho-do-café, Jiguê a lagarta-rosada e Macunaíma o futebol, três pragas.” 38
42 Macunaíma enganava o gigante Piaimã. Sagaz e malandro.
NO TERREIRO DE MACUMBA: “Um carniceiro pediu pra todos comprarem a carne doente dele e Exu consentiu. Um fazendeiro pediu pra não ter mais saúva nem maleita no sítio dele e Exu se riu falando que isso não consentia não. Um namorista pediu pra pequena dele conseguir o lugar de professora municipal pra casarem e Exu consentiu. Um médico fez um discurso pedindo pra escrever com muita elegância a fala portuguesa e Exu não consentiu.” 49
Neste terreiro, Macunaíma surra, através da Macumba, o eu de Paimã.
‘POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA, OS MALES DO BRASIL SÃO!” 56
Icamiabas: as senhoras do Amazonas. 59
Na carta, Macunaíma usa de erudição – para fazê-las heróicas.
“Macunaíma aproveitava a espera se aperfeiçoando nas duas línguas da terra, o brasileiro falado e o português escrito.” 69
Macunaíma “desejava saber as línguas da terra”. 70
70 Encontra Fräulein.
71 O caso do puíto para designar botoeira e o sarcasmo para com os doutos eruditos da língua.
Macunaíma arma contra os irmãos para o povo inteiro surrá-los. Agora ele, súbito, os defende. 78
É preso. O povo agora muda de lado: está a favor dele. Ele aproveita a bulha e foge. 79 NOTAR A MUDANÇA DE OPINIÃO DO POVO, FACILMENTE MANIPULADO.
“Neste mundo tem três barras que são a perdição dos homens: barra de rio, barra de ouro e barra de saia...” palavras de Macunaíma.
87 Pega sarampo. NOTAR as inúmeras doenças que ele pega.
92 Macunaíma morre pela segunda vez. Bateu com um paralelepípedo em seus toaliquiçus, enganado por um macaco mono que disse que era possível comê-los. Notar que o herói também está sempre passando fome.
92 É ressuscitado novamente por Maanape. Ganha dinheiro no jogo do bicho e disso passam a viver.
96 Macunaíma transa com outra namorada de Jiguê, Suzi.
“o Pai do Sono inda existe e os homens por castigo não podem dormir em pé.” 100
106 Macunaíma mata o gigante pondo-o no molho do macarrão. Recupera a muiraquitã e chora com saudade de Ci, a única mulher que amara.
107 Retornam os três manos “pra querência deles”.
Arruma confusão com Oibê, outro monstrengo.
117 O local onde Macunaíma morava, Uraricoera, está em farrapos. “Macunaíma chorou.”
118 Vai buscar sua consciência, “deixada na ilha de Marapatá. Jacaré achou? nem ele. Então Macunaíma pegou a consciência dum hispano-americano, botou na cabeça e se deu bem da mesma forma.”
121 Macunaíma prepara uma armadilha para o mano Jiguê. Veneno de cobra em um anzol come-o todo, só lhe fica a sombra. Notar a maldade de Macunaíma com seus irmãos. A princesa que estava com Macunaíma mas também dava pra Jiguê quer se vingar, com a ajuda da sombra de Jiguê.
Macunaíma adoeceu e morrerá porque comeu a sombra leprosa. “Então se lembrou de passar a doença nos outros pra não morrer sozinho.” 121
Mas ele passa a doença para “sete outras fentes e ficou são”. 122
A sombra come todos e Macunaíma fica sozinho. “Ficara defunto sem choro, no abandono completo.” 126
Pula na água por causa da sedução da Uiara e é parcialmente devorado. Ele encontra seus pedaços e cola, só não encontrou a perna e a muiraquitã.
Sobe ao céu por um cipó. “NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRA”. 131
Ele e seus trecos (legornes etc.) vira a Ursa Maior. “A Ursa Maior é Macunaíma. É mesmo o herói capenga que de tanto penar na terra sem saúde e com muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se embora e banza solitário no campo vasto do céu.” 133
“E só o papagaio no silêncio do Uraricoera preservava do esquecimento os casos e a fala desaparecida. Só o papagaio conservava no silêncio as frases e feitos do herói.” 135
O papagaio contou a história pro homem, que virou o narrador da história que contou pra nós.

IRACEMA, de José de Alencar

ANOTAÇÕES SOBRE O ROMANCE IRACEMA


Inicia com uma carta que apresenta o livro, um presente a um amigo do Ceará.
Poema em prosa que conta romanticamente o surgimento do estado do Ceará, utilizando-se de alguns fatos históricos.
Há quem diga que Iracema é o anagrama de América.
Começa com a descrição do lugar, do mar e de Iracema, filha da grande nação tabajara.
Ela tem uma ará que é sua amiga e companheira, e a chama pelo nome.
Chega um guerreiro estranho, Martim. Iracema o acerta de raspão com uma flecha, ao vê-lo não reagir à sua violência, arrepende-se de tê-lo magoado e se desculpa. O guerreiro branco fala a língua dos índios.
O pai de Iracema, a quem o guerreiro é apresentado e hospedado em sua cabana, chama-se Araquém. O deus da tribo é Tupã.
Araquém é o pajé da tribo, recebe bem o hóspede dizendo que fora Tupã quem o mandara.
Iracema é a virgem que fabrica a bebida de Tupã para dar de beber ao pajé. Todas as outras mulheres podem “servir” ao guerreiro, exceto ela.
Irapuã desce a serra para ajudar os índios no próximo combate aos pitiguaras.
Quando Martim tenta ir embora, Iracema pede que ele espere seu irmão Caubi.
Irapuã solta o grito de guerra. Andira, irmão do pajé, destemido guerreiro, nega a guerra em favor da paz, mas Irapuã reafirma o confronto.
Martim tem uma noiva que o espera, Iracema percebe isso, mas ele já está desde o primeiro momento apaixonado por Iracema.
Ele tenta beijá-la, mas ela resiste.
Um dos guerreiros tabajaras quer matar o branco, para que bebendo o seu sangue talvez Iracema o ame. Ela vela por Martim durante a noite, cheia de remorsos por estar deixando-o a perigo. Ao perceber que Iracema fica triste com sua partida, Martim resolve ficar. Mas Iracema diz que ele deve partir. Na despedida, se beijam. A ará, jandaia, olha triste Iracema, que a esquecera desde a chegada do guerreiro branco.
Cem guerreiros tabajaras, comandados por Irapuã, querem matar o branco, mas Caubi e Iracema se colocam à frente dele para protegerem-no.
Martim duela com Irapuã, durante este duelo ouvem o troar da inúbia dos pitiguaras, o que interrompe a luta. Mas os pitiguaras não aparecem.Irapuã vai à cabana do pajé pegar Martim, mas Araquém defende seu hóspede expulsando Irapuã.
Foi Poti, amigo de Martim, que deu o sinal de guerra do pitiguaras para salvar o amigo. Ele veio só salvar o amigo. Iracema os aconselha a esperarem uma festa no dia seguinte para fugirem, já que os guerreiros todos estariam drogados.
Iracema dorme na rede com Martim.
A festa a que se referia Iracema é a celebração do mistério da Jurema, onde ocorrem oferendas a Tupã, e os índios bebem um líquido entorpecente.
Iracema conduz Martim e Poti e diz que não pode mais retornar, pois “Araquém não tem mais filha”.
Longe das terras dos tabajaras, Martim, agora acordado, toma Iracema pela segunda vez.
Os tabajaras vão atrás do estrangeiro para vingarem-se de ter ele tomado sua virgem.
Ocorre o encontro com os pitiguaras. Ronca a guerra.
Jacaúna X Irapuã.
Jacaúna cede lugar a Martim, para permitir sua vingança, mas quando Iracema o vê em perigo, mata Irapuã para defender seu amado.
Poti presenteia Martim com seu cão. Fora ele quem trouxera os guerreiros de Jacaúna para defendê-los dos tabajaras.
* Notar a grande cumplicidade entre os amigos.
Iracema fica nas terras dos pitiguaras, cujo deus também é Tupã, junto com Martim.
Martim diz que vai embora com Iracema. Poti, que é irmão de Jacaúna, os acompanha.
Eles três instalam-se à margem de um rio.
Martim sai à caça com Poti. Iracema regozija-se com o retorno.
Notar a vida de Iracema ao lado de Martim: colher frutos, banhar-se na lagoa, descansar...
Revela a Martim que está grávida quando este voltava da caça.
Martim torna-se um guerreiro pitiguara. Coatiabo é o nome que Iracema lhe dá, e significa o guerreiro pintado, o guerreiro da esposa e do amigo.
Ao ver um barco dos brancos, Martim fica triste devido à saudade. A felicidade começa a enjoá-lo.
Os brancos fazem aliança com Irapuã para combater os pitiguaras. Poti e Martim partem para a guerra sem avisar Iracema. Martim deixa apenas uma flecha enterrada na areia.
Iracema senta-se ao lado dessa flecha e só se recolhe à noite.
Jandaia a encontra.
Martim não leva Iracema para a terra dos brancos porque sabe que cada passo que a afasta dos tabajaras, é uma porção da vida que lhe rouba.
Iracema se dói do desejo não expresso do esposo de voltar à terra dos pais.
Mais uma guerra: a vingança dos brancos, guaraciabas, derrotados na anterior.
Elevação dos pitiguaras: os melhores guerreiros; Poti: o melhor chefe. IDEALIZAÇÃO.
Os brancos têm armas de fogo, canhões... Os índios arcos e flechas. Ainda assim, há nova vitória dos pitiguaras.
Iracema sente as dores do parto. A narrativa do nascimento é bem rápida. Ela tem o filho só; Martim ainda está na guerra.
Caubi vai encontrar Iracema, apenas para ver como ela está, sem nenhum sentimento de vingança.
Falta leite à Iracema; ela põe filhotes de cães a chuparem seus seios para formar leite.
Quando Martim volta, Caubi não está mais com Iracema, e esta, por sua vez, morre.
Iracema é enterrada aos pés de um coqueiro, onde Jandaia fica a velar seu túmulo.
Martim deixa Poti e parte com o filho e o cão fiel para sua terra. Mas volta logo, com guerreiros e um sacerdote.
O início da catequização; mas Martim continua defendendo os índios às atrocidades dos brancos.
Notar que não há notas no canto das páginas como em O Guarani; o autor vai explicando os termos na narrativa, logo após tê-los mencionado.
No final, como fora prometido no início, há nova “conversa” com o Dr. Jaguaribe.
O autor diz que fizera primeiro o livro em poesia, mas mudou de idéia achando que a prosa era um estilo melhor à narração daquilo a que se proporá contar.
Diz que o livro é “uma biografia perfumada pela alma de uma mulher”.
Notar que aí Alencar critica seus próprios erros, tentando dar uma dimensão de sua mediocridade; talvez por tática.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lucíola, de José de Alencar

ALENCAR, José de
LUCÍOLA


O livro foi composto a partir de cartas reunidas por G. M., que desde o início tenta justificar as cenas impudicas que serão lidas.
A história é contada por Paulo, que além de narrador – 1ª pessoa – também é protagonista. Apesar de ele estar lembrando acontecimentos que ocorreram no passado, conta-os da forma que os sentiu no momento em que ocorreram, como se estivesse passando por eles no tempo presente.
Paulo tem 20 anos; seu melhor amigo é o Sá, um pouco mais velho que ele, um tanto mais rico e muito mais excêntrico; ao contrário de Paulo, vê nas prostitutas um objeto, e não um sujeito.
Recompondo o passado, Paulo permite-nos moldar a sua própria personalidade, a de Lúcia e a daqueles que o cercam. É com suas impressões que ele recompõe este fragmento de sua vida.
No começo da narrativa, apesar das evidências, Paulo parece duvidar que moça de ar tão distinto e casto como Lúcia seja realmente uma cortesã; mas é uma dúvida sutil, talvez um certo constrangimento moral, um receio pueril, do tipo que sentimos ao ver nuvens negras e nos perguntarmos: será mesmo que vai chover?
Ao primeiro abraço de Paulo, Lúcia, aflita e triste por ele ter perdido aquela dúvida e não a ver mais como a tinha visto da primeira vez – revestida de recato e pureza – chora duas lágrimas compridas que lhe escorrem lentamente pelas faces. Há aqui um pouco de arrependimento por parte da prostituta, que sente o preconceito daquele por quem começava a nutrir certa amizade.
Nas páginas 53 e 54 o autor fala das reticências, das quais abdica, e do obsceno do que vai escrever, avisando ao leitor e com isso tentando impedir que algum editor da época cortasse as cenas mais picantes.
Paulo fica indignado ao saber que algumas pessoas estão pensando que ele está vivendo às custas de Lúcia, ainda mais pela vergonha de não poder pagar à moça com o luxo e a riqueza que ela merece.
Ele a obriga a ter amantes, abrindo mão de sua exclusividade, mas sente ciúmes. Ela fica com o Couto. Nisto, Paulo, para fazê-la sentir ciúmes, marca um encontro com Nina, mas falta a esse encontro. Notar aí o fato de ele obrigá-la a ter um amante, mas ficar com ciúmes e retaliar.
Ele a maltrata, depois arrepende-se. Notar a sua instabilidade e inconstância.
Lúcia acaba perdendo o desejo sexual. Com isso tenta espiritualizar o seu amor; surge o interesse pelo passado de Paulo e por suas pretensões ao futuro. Ela começa a recusar-se ao sexo. O sexo lhe tortura por parecer-lhe abjeto.
Notar a incrível submissão a que ela se larga.
Paulo acha que ela o está torturando de propósito, mas depois se dá conta do verdadeiro motivo:
“O que outrora me parecia vileza era já delicada atenção”. Vileza: por ter sido prostituta. Atenção: por ser agora mulher, deixa a posição de objeto para ser sujeito.
Notar a cadência dada ao texto devido ao fato de Lúcia ser uma prostituta, favorecida pela eterna dúvida de Paulo, que sempre desconfia que tudo não passa de uma encenação, de um capricho.
Lúcia narra os fatos decisivos de sua vida a Paulo. Início na p. 160.
Ela conta que o Couto foi o primeiro a possuí-la, quando aos 14 anos, com a família inteira doente, viu-se obrigada a aceitar seu dinheiro, depois de ter recusado por várias vezes. Notar que ela não foi prostituta por imoralidade, mas por necessidade.
O pai, já convalescente, ao saber pela boca da filha o que tinha acontecido, expulsa-a de casa, sem aperceber-se da inocência da menina, e do heroísmo de tal ação, por ter-lhe devolvido a vida.
Jesuína, que lhe ajudara quando de um mal-estar, afastando Paulo de perto dela, foi quem recolheu-a da rua e a pôs de vez na prostituição.
Mesmo expulsa de casa, ela nunca deixou que nada faltasse à família; assim, Paulo fica sabendo o segredo da avareza de que acusavam Lúcia, e o leitor a toma como heroína boa e virtuosa.
Tendo uma amiga morta, Maria da Glória (Lúcia) troca de nome com esta para permitir à sua família a tranqüilidade, já que a lembrança de seu erro a perseguia.
Da família de Maria só restou viva a irmãzinha Ana, que Lúcia toma para ir morar com ela, em uma casa simples e modesta.
Lúcia tinha então 19 anos.
Couto, ressentido do asco que Lúcia nutre por ele, tenta desmoralizá-la diante das amigas de Ana, suas vizinhas; no entanto, Lúcia não perde a dignidade e a altivez, e Couto vê seu intuito fracassado.
Notar a vida tranqüila que vivem os três (Paulo, Ana e Lúcia) depois de um início conturbado, sendo que Paulo é apenas uma visita constante, tido tão-somente como um grande amigo. E Paulo, para surpresa do leitor, sente-se feliz com esta situação.
Lúcia, muito doente, propõe a Paulo casar-se com Ana (irmã de Lúcia), mas ele recusa. “(...) promete-me que, se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai”. Isto no período da febre.
Lúcia, ou Maria da Glória, como ela queria que Paulo e a irmã a chamassem, morre num aborto natural com complicações.
Paulo, para nos informar – ou à senhora para quem remete o livro, a senhora G. M. – diz que Ana casou-se e é feliz ao lado de um marido que a ama.
Lúcia morrera como uma mártir, no melhor estilo de mártir cristã.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Questões sobre Murilo Mendes e Vinicius de Moraes

Algumas questíunculas sobre Murilo Mendes e Vinícius de Moraes.
Estas são moleza, nem precisa de gabarito.


Murilo Mendes

Texto para as questões 1 e 2
Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil-réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
1 – Sobre o poema ao lado, afirma-se:

I – critica os costumes brasileiros e apresenta um eu lírico satisfeito com o exílio.
II – apresenta a dura realidade dos pobres que não têm dinheiro para alimentarem-se com dignidade.
III – é uma paródia de um famoso poema romântico de Gonçalves Dias.
IV – é, de certa forma, autobiográfico, pois Murilo Mendes passou muito tempo de sua vida vivendo fora do Brasil.
V – demonstra a fé de Murilo Mendes, católico praticante cujo projeto lírico era “restaurar a poesia em Cristo”.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, IV e V c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas



2 – Ainda sobre o poema Canção do Exílio, afirma-se:
I – Os versos iniciados por letra minúscula marcam o fato de estes invadirem os intervalos que os separam do verso anterior, tanto sintática quanto semanticamente.
II – o eu lírico critica os poetas que se apartam do mundo em “torres de ametista” sem perceber que integram o povo brasileiro.
III – apesar de reconhecer que há problemas em sua pátria, o eu lírico sente-se sufocado em terra estrangeira.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I b) I e II c) I e III d) II e) I, II e III


3 – O livro de poemas em que Murilo Mendes se despede do Brasil, sobretudo de Minas Gerais, estado em que nasceu e cuja presença barroca do Aleijadinho influenciou-o profundamente, tem como título:
a) Poesia Liberdade
b) A poesia em pânico
c) As metamorfoses
d) Mundo enigma
e) Contemplação de Ouro Preto
Texto para a questão 4
O poeta na igreja

Entre a tua eternidade e o meu espírito
se balança o mundo das formas.
Não consigo ultrapassar a linha dos vitrais
pra repousar nos teus caminhos perfeitos.
Meu pensamento esbarra nos seios, nas coxas e ancas das mulheres,
pronto.
Estou aqui, nu, paralelo à tua vontade,
sitiado pelas imagens exteriores.
Todo o meu ser procura romper o seu próprio molde
em vão! noite do espírito
onde os círculos da minha vontade se esgotam.
Talhado pra eternidade das idéias
ai quem virá povoar o vazio da minha alma?

Vestidos suarentos, cabeças virando de repente,
pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,
seios decotados não me deixam ver a cruz.

Me desliguem do mundo das formas!

4 – Sobre o poema O poeta na igreja, afirma-se:

I – é modelo da poesia que tenta conciliar extremos, freqüente na obra de Murilo Mendes.
II – revela a espiritualidade do autor, cujo eu lírico, neste poema, demonstra sua inquietação diante de um mundo que o impede de alcançar a libertação das formas e a plenitude do espírito.
III – nele está presente a ginofilia (o apreço do autor pelas mulheres), das quais ele foi sempre um admirador.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I b) I e II c) I e III d) II e) I, II e III

Texto para a questão 5
O padre de ferro

Este homem não entendeu
O caráter brasileiro
Quis deitar muita energia,
Acabou se dando mal.
Antes deixar como está
Para ver como é que fica!...

5 – Este poema pertence ao livro:

a) O visionário, em que Murilo Mendes revela sua fé católica e seus anseios religiosos.
b) História do Brasil, em que Murilo Mendes expressa-se originalmente com poemas-piada sutis ainda inspirados pelos modernistas de 1922.
c) Tempo e eternidade, em que Murilo Mendes critica os princípios cristãos expressando a efemeridade da vida.
d) As metamorfoses, em que o autor demonstra a instabilidade da personalidade humana e revela uma profunda crise existencial.
Texto para a questão 6
Pré-história

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos.

6 – Este poema é um claro exemplo de qual tendência, freqüente em Murilo Mendes:

a) barroca
b) metafísica
c) surrealista
d) musicista
e) cubista
Texto para a questão 7
Meninos

Sentado à soleira da porta
Menino triste
Que nunca leu Júlio Verne
Menino que não joga bilboquê
Menino das brotoejas e da tosse eterna

Contempla o menino rico na varanda
Rodando na bicicleta
O mar autônomo sem fim

É triste a luta das classes.

7 – Sobre este poema, afirma-se:
I – demonstra a fé de Murilo Mendes, católico praticante cujo projeto lírico era “restaurar a poesia em Cristo”, resgatando a compaixão pelo ser humano.
II – revela que o autor simpatizava com a causa das classes pobres.
III – é um bom modelo para comprovar o comprometimento político de Murilo Mendes e seu interesse pelas causas humanitárias.
IV – demonstra a compaixão de Murilo Mendes pelas crianças, motivada pela amargura de nunca ter conseguido ter um filho.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I, II e III b) II e IV c) III e IV d) I, II e IV e) todas estão corretas

8 – Vinícius de Moraes
Leia os dois poemas abaixo para responder o que segue.
A uma mulher

Quando a madrugada entrou, eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Soneto de devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela

Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez... – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Sobre os poemas acima, afirma-se:
I – O primeiro mostra uma mulher idealizada, mística, produto de uma primeira fase católica do poeta; enquanto o segundo revela a mulher objeto, caracterizada na figura de uma prostituta.
II – O primeiro revela uma atmosfera mística, mostrando uma certa consciência do “pecado” que provoca um estado de confusão mental no eu lírico.
III – O segundo poema trata a mulher como ser carnal, lascivo, em oposição às mulheres românticas.
IV – O primeiro pertence à segunda fase do poeta, em que ele revela amadurecimento e um recrudescimento de seu espírito boêmio, tendendo a uma maior espiritualidade.
V – O segundo poema revela a estrutura poética em que Vinícius de Moraes despertou maior comoção no público: o soneto, forma poética em que o autor foi mestre.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I, II e IV b) II, III e V c) III, IV e V d) II, IV e V e) I, IV e V

Seminário do livro Fogo morto, de J. Lins do Rego

SEMINÁRIO DO LIVRO FOGO MORTO, DE JOSÉ LINS DO REGO

Buenas. Aí embaixo estão algumas perguntas que elaborei sobre o livro Fogo morto. Achei que respondendo às perguntas vocês poderiam aprofundar seu conhecimento da obra. Antes de responder leiam o livro, ou, pelo menos, um bom resumo. O gabarito está no final.


1 – Sobre as três personagens que encabeçam as partes do romance Fogo morto, de José Lins do Rego, afirma-se:
I – elas têm em comum o fato de representarem a aristocracia decadente dos engenhos de açúcar.
II – cada uma delas representa uma esfera social diferente, mas igualam-se porque, cada uma a seu modo, retrata a decadência do sistema social erigido em torno dos engenhos.
III – as três apresentam psicoses que revelam quadros variados de loucura.
IV – ligam-se umas às outras pelo parentesco, fazendo o romance constituir, internamente, uma trilogia que retrata a história da família.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) II e III b) II e IV c) III e IV d) I, II e IV e) todas estão corretas

2 – José Lins do Rego foi um dos mais proeminentes escritores da chamada Geração de 30. Sobre os escritores desta geração, é correto afirmar que
a) escreveram textos essencialmente regionalistas, voltados para corresponder aos interesses dos leitores de sua região de origem.
b) escreveram textos regionalistas que, porém, por explorarem a condição essencialmente humana das personagens, alcançaram dimensão universal.
c) escreveram seus romances no período entre 1930 e 1939, após o qual uma nova fase surgiu na literatura brasileira.
d) constituiu-se de um grupo de escritores nordestinos comprometidos em retratar os costumes e a vida do povo do sertão, revelando a condição humana do sertanejo.

3 – Mário de Andrade foi um dos muitos críticos literários que se rendeu à qualidade artística da obra Fogo morto. Segundo ele, os três personagens que encabeçam as partes do livro têm em comum
a) “complexo de inferioridade”
b) “mania de superioridade”
c) “esquizofrenia”
d) “sérios problemas de relacionamento com as esposas, o que desencadeia neles crises nervosas”
e) “um machismo exacerbado que os leva a agredir suas esposas para compensar suas frustrações sexuais”



4 – Antonio Carlos Villaça comparou o romance Fogo morto a uma sonata em três movimentos: “a alegro inicial, com a raiva do mestre Zé Amaro, destabocado, sincero, o andante central com a pasmaceira de Lula de Holanda, e o presto fulgurante, [...] do incrível capitão Vitorino, impetuosa criação.”

Dentre os livros citados abaixo, assinale aquele que também tem uma estrutura comparada a uma peça musical:
a) Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo
b) Violões que choram, de Cruz e Souza
c) Concerto campestre, de Luiz Antonio de Assis Brasil
d) Menino de Engenho, de José Lins do Rego
e) A hora da estrela, de Clarice Lispector

5 – As frases do romance Fogo morto são objetivas, tendo, a maioria, entre uma e duas linhas. Ao invés de vírgulas, o autor prefere o ponto. Além disso, o narrador dá voz às personagens, calcando o texto muito mais nos diálogos do que na narração, dando agilidade às ações. Esta estrutura
a) reforça a configuração modernista do livro atendendo aos preceitos da geração de 22.
b) acentua a incapacidade lingüística das personagens, que não tiveram acesso à educação.
c) facilita a leitura, tornando o texto mais leve e atraente.
d) reforça o caráter dramático da narrativa, aproximando-o a uma peça teatral cujo tema é a tragédia.
e) alimenta o sentido lírico da obra, monumento de concisão estilística.

6 – Na página 58, José Amaro faz a seguinte reflexão: “Nesta terra só quem não tem razão é pobre”. Na página 305, o narrador a reitera, revelando-nos que José Amaro pensa que “Pobre não tinha direito. Quem sabia dar direito aos pobres era o capitão, era Jesuíno Brilhante, era o cangaço que vingava [...]”. A reiteração desta reflexão revela que o autor
a) tinha a intenção de deixar claro que José Amaro estava ficando maluco e por isso repetia suas idéias.
b) reafirma sua crítica a um sistema injusto em que apenas os ricos têm seus direitos assegurados, enquanto os pobres só os têm quando vingados pela marginalidade.
c) cometeu uma falha estética ao repetir idéias iguais modificando apenas a forma como as expressou.
d) quis deixar claro o caráter cíclico de seu romance, pois os fatos se repetem ao longo da narrativa.

7 – Vitorino Carneiro da Cunha é, de certa forma, inspirado num personagem clássico da Literatura Universal. Qual é este personagem?
a) Sancho Pança
b) Dom Casmurro
c) Quincas Borba
d) Hamlet
e) Dom Quixote

8 – Uma constante do Romance de 30 é a crítica aos poderes constituídos. Em Fogo morto, uma das formas desta crítica percebe-se
a) no modo como o narrador descreve a decrepitude e a loucura dos senhores de engenho.
b) nas ações da polícia que, sem conseguir prender os bandidos de verdade, prova sua ineficiência e, de forma patética, espanca e prende o cego e os velhos, cidadãos indefesos.
c) na idealização do cangaceiro, que representa uma referência a Robin Hood, pois rouba dos ricos para distribuir entre os pobres.
d) na totalidade do romance, que desenvolve a temática da decadência dos engenhos, cujo destino é transformar-se num “fogo morto”.

9 – O engenho Santa Fé é, comparado com os demais, pequeno, mas diferencia-se dos outros porque os senhores desfilam num cabriolé e, sobretudo, porque nele há um piano. O piano funciona como um símbolo, que representa
a) o respeito e admiração que seus senhores têm por suas mulheres, as quais tocam o instrumento divinamente.
b) o refinamento cultural das filhas de seu Tomás, que fazia questão de proporcionar a elas uma educação requintada, para fazê-las diferentes de todas as outras e demonstrar seu amor por elas.
c) o luxo do qual usufruíam os senhores do engenho Santa Fé, o qual foi responsável pela sua decadência.
d) o gosto que seu Tomás e seu Lula tinham pela música, a qual proporcionava momentos de muito prazer a ambos quando as filhas de seu Tomás tocavam.
e) cultura, poder e riqueza.

10 – Sobre as mulheres do engenho Santa Fé, afirma-se:
I – são semelhantes às demais, pois representam apenas a condição da mulher submissa, subjugada pela força do marido.
II – as filhas diferenciam-se das dos outros senhores de engenho pela requintada educação que seu Tomás fez questão de garantir-lhes.
III – representam a força da mulher que, quando os maridos adoecem e não têm mais condições de prover a família, tomam para si esta responsabilidade e têm êxito nela.
IV – são personagens planas, que não apresentam complexidade psicológica.
V – a doença de Olívia a iguala à Marta, demonstrando a intenção do autor de mostrar que ricos e pobres, diante da força da loucura, são igualmente, simplesmente, humanos.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e V c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas

11 – Lula de Holanda Chacon é um senhor de engenho culto, bem informado e fervorosamente religioso. Esta caracterização revela a intenção do autor de
a) provar que a fé em Deus e o conhecimento não é capaz de salvar um engenho do seu destino de falência.
b) deixar claro que o conhecimento individual não pode superar uma tendência social, que, no caso do capitalismo, constitui-se na substituição dos engenhos pelas usinas.
c) criticar a classe dominante que, apesar de seu poder, não consegue comandar sua vida pessoal.
d) demonstrar que um homem culto, religioso e rico é tão homem quanto um seleiro, um vadio ou qualquer outro, e deixar clara sua posição de que nenhum homem é melhor do que outro.

12 – Luís, o filho de Vitorino, representa:
a) o homem da cidade, muito mais humano do que as criaturas animalizadas do sertão.
b) o homem do sertão que, ao mudar-se para a cidade grande, é corrompido e se degrada.
c) a possibilidade de uma vida melhor fora do sertão, num ambiente que não exige das pessoas tentarem demonstrar que são o que não são, como seu pai faz o tempo todo.
d) a crença do autor de que o homem humilde pode alcançar pelo trabalho a realização de seus sonhos, independente da classe social a que pertence.

13 – Observe os itens a seguir:
I – “Não possuía nada e se sentia como se fosse senhor do mundo.” p. 396
II – “Voltava mais uma vez à sua mágoa latente: o filho que não viera, a filha que era uma manteiga derretida.” p. 56-57
III – “Já ia perto de casa. Lá encontraria a mulher e a filha, toda a desgraça de sua vida.” p. 81
IV – “A sua mulher teria também medo dele? Estaria assim tão monstruoso que espantasse o povo?”
V – Mesmo tendo apanhado a ponto de ficar desfalecido, quando levanta, afirma que retornará à luta: “Um homem que se preza não deve se entregar.” p. 400

Dentre os itens acima, referem-se ao capitão Vitorino Carneiro da Cunha:
a) I e III b) I e V c) III e IV d) II e V e) n.d.a.

14 – Sobre José Amaro, afirma-se:
I – tem clara semelhança com o personagem Dom Quixote, criação de Miguel de Cervantes.
II – não se conforma com sua condição de inferioridade, e vê a ajuda que dá aos cangaceiros como uma possibilidade de recuperar sua dignidade.
III – sente-se mal, pois não conseguira a mesma glória no trabalho que seu pai alcançara, tendo este feito selas inclusive para o imperador.
IV – não se conforma com a doença da filha e, por espancá-la, acaba abandonado pela esposa, que o teme como se ele estivesse possuído pelo demônio.
V – torna-se uma espécie de “lobisomem” após ter feito um pacto com o demônio.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e IV c) III e IV d) I, II e V e) todas estão corretas

15 – Sobre Lula de Holanda Chacon, afirma-se:
I – representa a aristocracia decadente dos engenhos de açúcar.
II – representa o homem culto que, apesar de seus conhecimentos e da dedicação ao trabalho, não consegue evitar a falência de sua propriedade.
III – apesar de toda a riqueza, devoção religiosa e cultura, acaba como os outros personagens principais do livro: arruinado e louco.
IV – representa o patriarca poderoso que, com pulso firme, comanda seus escravos, sua propriedade e sua família.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e IV c) III e IV d) I, II e IV e) n.d.a.

Gabarito
1 a 6 b 11 d
2 b 7 e 12 c
3 b 8 b 13 b
4 c 9 14 b
5 d 10 b 15 a

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Seminário Porteira fechada, de Cyro Martins

MARTINS, CYRO
PORTEIRA FECHADA



Capitão Fagundes, logo no começo do livro, está ocioso olhando as prateleiras vazias. Ele é um grosso, do tipo que bate na mulher, a Fausta; eles também têm filhos.
O povoado onde vivem é extremamente pobre, miserável.
Morre João Guedes – é assassinado ou suicidara-se? Volta ao passado para contar a história dele. Ele tem cinco filhos, dos quais apenas um é menino.
É expulso do pedacinho de chão do qual era arrendatário. O negócio da venda se deu sem o Guedes saber.
A mulher parece ser mais vivaz do que ele.
O seu Bento, que vendera a terra do Guedes para o Júlio Bica, suicida-se acossado pelas dívidas. Nessa, o ruim é o comprador da terra; o Bento tinha dívidas com ele e por isso foi obrigado a vender a terrinha do Guedes para saldá-las.
Guedes se dispõe prontamente a ajudar a família.
No começo dos capítulos há sempre uma referência ao velório do Guedes, ou, pelo menos, à sua morte.
Com o suicídio do Bento e a narrativa deslocando seu eixo central para ele, começo a pensar que o Guedes também suicidou-se.
Notar a quebra do tempo cronológico.
Notar também as questões políticas: o sobe e desce no poder.
O chefe, coronel Ramiro, depois que perdera o poder passou a freqüentar a igreja, para ao menos ser olhado pelos outros.
A esposa do Guedes é mais instruído do que ele, e o que ela ensina aos filhos, ele, sem querer, acaba “desensinando”. Maria José e o marido foram amparados pelo esposo de uma amiga dela, a qual (esta prima) não gostou de que ele o tenha feito. Notar isso: a parente da Maria José critica o marido, que não os conhece, por lhes ter ajudado, a eles que eram parentes dela.
Querubina, a prima, mostra-se arrogante e até brutal com Maria José, deixando bem clara a diferença de classe social que há entre elas. Ela até previne a filha dos piolhos que as primas podem ter.
Notar que o autor remete a isso literalmente: diferentes classe sociais.
Notar, por outro lado, o desejo de Maria José de ter o que Querubina tem.
O casal percebe logo o tamanho das dificuldades que terão pela frente, ele até mais do que ela, que ainda está impressionada. Todos os produtos são mais caros na cidade; o custo de vida é elevado.
Fagundes dorme só, quer dizer, na mesma cama de Fausta, porém Fausta não se deita mais COM ele: o casal, depois que ele ficara arruinado, só fala enquanto está brigando. NOTAR A RELEVÂNCIA DO DINHEIRO.
Fagundes anda atormentado pelas recordações de seu passado.
Guedes se torna ladrão e negocia seus furtos (peles de ovelha – NOTAR A MEDIOCRIDADE DAS COISAS QUE FURTA) com o Fagundes.
Notar que ele não vai decaindo, ou melhor, o narrador não expõe sua decadência, ele simplesmente apareceu um dia com o produto do roubo e foi vendê-lo ao Fagundes.
Uma das filhas (Isabel) foge com o namorado (fuga fruto da esperança de uma vida melhor), filho do Fagundes.
“Ultimamente, a própria Maria José o instigava ao furto, acossada pela pobreza.” 70 Uma página depois, ele é preso.
Notar que todos os homens casados parecem detestar suas esposas, as quais igualmente os detestam.
Maria José, depois de muito hesitar, resolve pedir ajuda à prima. Querubina resolve-se a ajudá-la muito mais pelo que os outros iriam pensar se ela não o fizesse do que por compaixão.
Querubina não gosta do marido, principalmente do jeito que ele volta do clube: sempre tarde e bêbado, ou, pelo menos, além de tarde tonto.
Todo mundo é muito parecido.
Querubina, tentando matar dois coelhos com uma cajadada só, quer dar a defesa do caso do Guedes para o noivo da filha, que já é formado em Direito mas ainda não advoga. Porém ele é o filho do fazendeiro que o Guedes roubou. É um playboizinho, um inútil filhinho de papai.
Querubina quer “fazer um homem daquele almofadinha”. 84
Ele, obviamente, recusa para não desafiar o papai.
Notar que a política é um mero jogo de interesses e troca de favores.
Até o Hélio, o almofadinha, vai receber uma nomeação como procurador.
João Guedes acostuma-se logo com a cadeia, parece até preferi-la.
“João Guedes em pouco tempo adaptara-se à vida na cadeia, que não lhe parecia das piores. Gozava ali de uma sensação de segurança de que havia muito se via privado. Prozeava com os outros presos, enchia mate para os soldados, pitava, comia e dormia. De cada vez que a Maria José ia vê-lo, achava-o mais arribado”. 90
Quando sai da prisão, fica muito angustiado, pois saía de uma prisão para outra pior. “Não haveria meio de voltar pra lá, pra cadeia?” 90
Na volta para casa, um ataque faz uma das filhas, a Tita, expirar. Isso foi precipitação do autor, ficou muito artificial.
Como a menina morrera de tuberculose, todos se afastam da família, e os trabalhos de costura da Maria José tornam-se ainda mais escassos.
Querubina manda-lhes diariamente UM litro de leite.
Guedes vende os arreios. É agora, definitivamente, um gaúcho “de a pé”. Notar que isso é um insulto à imagem que ele tinha do gaúcho. É o que de pior lhe poderia acontecer. É a perda de si mesmo, de sua identidade.
Notar que todos os personagens principais ou são miseráveis, coitados, ou "vermes desprezíveis". Não há meios termos.
Notar o João Biga, sempre vítima de chacotas, zombarias, e injustiças e surras. Ele é o limpador de latrinas.
Fagundes é obrigado pela Higiene a fechar o boliche. Como capanga do Ramiro, fizera muitas barbaridades.
João Biga, súbito, decide cavar para desenterrar um tesouro. Acaba sendo atropelado pelo Hélio, que pensara ter pego um cachorro. O João Biga não morre, apenas fica levemente ferido, sobrevive para continuar sofrendo.
O livro lembra Vidas Secas e O quinze.
Fagundes enlouquece.
No final, o autor volta ao campinho do Guedes, onde nada mais há de humano, “Mas que engorde dava aquela invernada!” 127


Observações: Cyro Martins compõe a trilogia do gaúcho a pé, em oposição ao centauro dos pampas e o monarca das coxilhas. Sem rumo (1937), Porteira Fechada (1944), Estrada Nova (1953).
Essa trilogia, contudo, não é uma seqüência, diz-se trilogia por causa da congruência da temática, isto é, o gaúcho pobre, que não tem onde morar e até mesmo nem o que comer. Ao mesmo tempo que tem aspectos regionalistas, ele, ao colocar esses aspectos numa situação de “crise”, faz uma crítica à sociedade.
Notar o êxodo rural.
O gaúcho que vai sendo empurrado pelas circunstâncias, sem nenhuma possibilidade de tornar-se herói, porque os textos não apresentam uma possibilidade de resolução do problema.
Os problemas, apesar de o autor ter sido psicanalista, não estão no plano psicológico, e sim no plano físico, o que diferencia seus textos dos de Dyonélio Machado, sobretudo de Os ratos.
Notar a Maria José e a Querubina, que apesar de serem de classes sociais diferentes têm entre si um paralelo. Além do mais, elas são parentes.
João Guedes não tinha consciência da sua exploração quando estava no campo: ele tinha o que comer, então estava bom, ou pelo menos, era o bastante.
O Fagundes explora quem ele pode para manter seu “poder”, pelo menos para satisfazer a sua própria necessidade.

A imagem do gaúcho não nasce na literatura, ela faz parte do imaginário popular do Rio Grande do Sul.

Seminário Concerto campestre, L. A. Assis Brasil

ASSIS BRASIL, LUIZ ANTONIO DE
CONCERTO CAMPESTRE



Major Antônio Eleutério de Fontes, “potentado em terras e charqueador” 5, “três filhos homens, dois netos e uma filha temporã”, tem uma orquestra pessoal, escravos e oito léguas de terras, esposa: “D. Brígida de Fontes, redonda como um melão maduro, e cujo azul da barba nascente dava-lhe um aspecto de coisa mitológica, imperava com um simples olhar sobre os filhos homens” 5
O livro começa descrevendo as personagens, aproveitando já o primeiro concerto que narra. Ao anoitecer, começa o baile.
O major nem sempre fora rico: “construíra fortuna aproveitando a sorte e armando situações irreversíveis para seus devedores.” 9
A orquestra começou com dois índios, os quais conquistaram a admiração do major. Depois, só fez crescer. Os índios, depois, desapareceram sem rastros, “ou por serem hostilizados pelos recém-vindos, ou ainda pela vocação nômade” 12
O Maestro é “um mulato claro corpulento demais para a função e com o rosto picado de antigas varíolas, cujo dom era saber os desejos do Major.” 7 Fora despachado pelo vigário por ter se envolvido em luxúria; o vigário gostava dele e por isso o recomendou ao Major para reger os músicos que este abrigava. “Resolveram esquecer seu nome, e, por sugestão do vigário, passaram a chamá-lo de Maestro.” 14
O Major e o Vigário vão ver a “videira do fantasma”, num lugar ermo, meio místico. 18 “O tempo se transtornara, e uma garoa gélida começou a cair. – E dizer que há pouco estávamos no verão, Major. Coisas estranhas acontecem por aqui.” 18-19
O Vigário sugere para a orquestro o nome Lira Santa Cecília. 20
A mulher do Major é contra tudo, principalmente contra a orquestra. “Como ele entrava na idade em que um homem descobre que é melhor suportar uma esposa difícil do que entediar-se com discórdias, não se importou.” 22
O Maestro transa com uma cozinheira. Ela é mandada embora e ele recebe aviso de que esta primeira fora a última vez.
A orquestra fica famosa. 26
Toca até num enterro. 27
Clara Vitória, filha do Major, a mais Angélica das moças: “se havia algo de certo na vida, que a empolgava até latejarem as têmporas e doerem os ossos, fazendo com que perdesse a fome e até a palavra, era a sua paixão pelo Maestro.” 28
O quarto de Clara Vitória é ao lado do do Maestro, e ela pode espiá-lo por uma fresta na parede, 30, e ouvi-lo. Mas ela diz que não escuta nada... 32
NOTAR que o tempo não é cronológico.
Ela, a Clara Vitória, faz guerra contra o Maestro. 35 Ela sequer sabe ler, só sabe bordar e coser.
Rossini é o rabequista principal, e ajuda o Maestro, embelezando a orquestra com sua racionalidade septuagenária. Ele diz que o amor é um animal que nos ataca, “mas não nos devora”, e já sabe que o Maestro apaixonou-se pela menina filha do Major.
Clara Vitória fora quem denunciara a cozinheira, e defendera o Maestro, que fora seduzido pela negra. 48
Silvestre Pimentel é o pretendente de Clara Vitória, o preferido de D. Brígida. “Era um homem consciente de sua ignorância.” 51
Notar que os episódios são recortados, sempre sob nova perspectiva, como em As virtudes da casa. Ex.: o primeiro concerto.
56 Resolve-se o casamento de Clara e Silvestre, arquitetado por D. Brígida. O rapaz é rico e tem um filho com uma peona.
Os dois filhos solteiros do Major são até agora insignificantes na história. 60
E, súbito: “e se o irmão já soubesse que ela, havia tempo, todas as noites, saía da cama, apagava a vela, e como uma sombra entre as sombras, se esgueirava para fora da casa e entrava no quarto de hóspedes e deitava-se com o Maestro até madrugada alta?” 61
O Major percebe que D. Brígida está obrigando o fracote Silvestre a tomar coragem para pedir a filha em casamento. 72
No 3 volta-se no tempo para acompanhar o flerte entre o Maestro e a menina.
Rossini antecipa ao Maestro a tragédia, final de toda ópera. 79-80
83 – Silvestre desmaia quando o Vigário diz que ele é o “prometido” de Clara Vitória. Isso ocorreu na missa, na frente de um monte de gente. Ele é mesmo um paspalho. Chega a ser um exagero sua fraqueza. Clara Vitória o acompanha para ajudá-lo.
O Maestro pensando em si e na menina: “há uma força imensa a separá-los, mas não conseguirá mudar o destino de seu amor.” 84
85 Ela se sabe grávida. OS FINAIS DE CAPÍTULO TÊM REVELAÇÕES SÚBITAS. É VIBRANTE, EMPOLGANTE, EMOCIONANTE!
Rossini era o conselheiro.
88 O Maestro sente-se discriminado pela cor, porque percebe o que pensam e não dizem sobre sua pele.
Rossini compara o amor às fases da lua: “iniciava cheio e brilhante, para depois ir minguando, minguando, até desaparecer entre as nuvens.” 89
O Maestro é de Minas, não é gaúcho.
A ama. Personagem que sabe de tudo, tem personalidade forte como D. Brígida, e todos se admiram de que duas mulheres assim se entendam. Siá Gonçalves é o nome dela. 91
92 O Maestro atina com a gravidez de Clara Vitória.
96-97 Clara Vitória se nega a participar da confissão com o Vigário.
Na 99 é que narra a orquestra no enterro mencionado no começo, do Barão tio do paspalho.
Na missa do enterro, Clara Vitória acolhe o Afilhado, filho do Silvestre, já aguçados seus instinto de mãe. 102
105-106 O Maestro, à noite, a leva para passear. A surpresa que preparara é a orquestra tocando só para ela a SUA música. Ele diz que sabe. Ela fica apavorada, tudo lhe lembra a morte. 107
Ela acha que o pai vai matá-la, conforme prometera quando chicoteara o filho mais velho que engravidara uma moça.
Ela não ia mais ao quarto do hóspede. Na 109 então ele é quem vai ao quarto dela. Vendo-a, ele recua; não a queria em sacrifício, a desejava livre, e sabia que a teria de volta em breve. “Ficaria à espera, pois a paciência é a qualidade de quem ama.” 110
111 Silvestre tornara-se um “outro homem”, e já se convencera de que Clara Vitória seria a esposa certa.
115 O padre tem um pressentimento. Aqui é o que estava acontecendo nas páginas iniciais, o concerto campestre. “E se sugerisse antecipar o casamento?”
Clara está pálida no baile. O padre a leva para o quarto. Ela se confessa a ele, deixando-o apavorado. “o Maestro, por quem tanto fizera e que traíra sua confiança.” 117
O padre Vigário pede a Silvestre que antecipem o casamento. 121
Os pais da menina não aceitam a antecipação. 124
125 A mãe atina com a gravidez e espanca a menina. 126
O pai vai matar Silvestre. Ele o fere, mas vai embora sem confirmar sua morte, e ele estava vivo.
A menina é expulsa de casa, para o boqueirão ermo do “fantasma”.
“A menina não reclamava, não se desesperava: já não obedecia às ordens do pai, mas ao destino.” 133
O enxoval que demorara meses a ser coxido queima em instantes, incendiado pelas mãos do Major.
Não será fácil para o Maestro salvá-la. Ele nem sequer consegue chegar até lá. 138
D. Brígida não sabe o que pensar. Sofre. 140 “Dormia mal, exaltada por pesadelos de morte.”
O Major não tem mais gosto por nada, nem por sua orquestra, que antes o empolgava tanto. 140
O Maestro, Rossini e os demais são despedidos pelo Major. 142
Silvestre Pimentel também parte, levando o filho e a tia. 144
O Maestro e Rossini conseguem emprego em Porto Alegre. 144, submissos à Igreja. Rossini arruma empregos em cabaré e bandas para os demais músicos, meio paizão de todos. 145
146-147 – Rossini leva o Maestro às putas, e ele transa com uma delas.
Todos deixam de ir à estância, menos o Vigário. 148
“o Major pusera homens vigiando a trilha.” 149
Desfaz-se a amizade entre o Major e o Vigário. 149
O Maestro padece de profunda depressão. 150 Transa nove vezes com Paulina. Na décima, adoece.
152-153 Clara Vitória cuida do boqueirão, arruma a casa como pode, conformada.
O Major começa a tresvariar, aos poucos enlouquecendo. “D. Brígida de Fontes caía num pasmo estúpido, e num dia chegou à conclusão de que tudo aquilo era muito pesado e inextricável para o que podia perceber da vida.” 154
Clara Vitória deu à luz uma menina. A parteira chega para cortar-lhe o cordão umbilical. A menina é levada para uma ama de leite.
Clara se torna uma sombra do que era, e começa a desaprender a falar. 158
158 É UMA PÁGINA ÓTIMA – O MUNDO CONTINUA MESMO QUE ELA NÃO DIGA NADA.
“Clara Vitória, como quem se desfaz de uma pele muito antiga, perdia a noção de si mesma.” 159
O Maestro e Rossini são despedidos por terem tocado a música DELA na Igreja.
Resolver recompor a Lira e retornar à estância. 164 O Major os aceita de volta. Mas as pessoas se negam em ir à estância para ouvi-los, inclusive o Vigário, furiosos com o modo como o Major tratou a filha.
IMPORTANTE: eles estão furiosos com o castigo brutal que o Major dera à filha, e não com a desonra desta. 167
O Vigário acaba indo, e é o único, afora os de casa. 170
Precipita-se uma tempestade de sangue. O Maestro aproveita a bulha para alcançar VÊ-LA. 173 O Major suicida-se. Rossini aplaude, com seu riso irônico e superior.
Após a tempestade, enquanto o sol novamente viceja, “Clara Vitória entregou-se ao primeiro beijo de todos os beijos de sua longa vida.” 174


Personagens: Major, D. Brígida, Clara Vitória, irmãos, Maestro, Rossini, a Lira Santa Cecília, Silvestre Pimentel, Vigário.
Espaço: notar o antagonismo do pastoralismo X rios de sangue do charqueamento.
Tempo: cíclico, cronológico em um ano.
Foco narrativo: 3ª pessoa que mantém suspense sobre os fatos, construindo as partes a partir de um todo inicial.
Ação: há muita ação, como num teatro, numa ópera. O texto lembra os movimentos de um concerto. NÃO ESQUEÇAM DISSO: RECIPROCIDADE ENTRE CONTEÚDO E FORMA!!!

Questões sobre Os ratos

QUESTÕES SOBRE A OBRA OS RATOS

1 – Além do dinheiro para pagar o leiteiro, Naziazeno conseguiu um excedente com o qual comprou, além de manteiga e queijo, um brinquedo para o filho (leõezinhos). Sobre este fato, afirma-se:
I – revela a ignorância de Naziazeno, que gasta o pouco que tem com coisas supérfluas.
II – é uma prova de afeto que humaniza Naziazeno, até então um homem animalizado por sua vida análoga à de um rato.
III – reforça a idéia de que Naziazeno representa, em certa medida, o Nazareno, uma vez que os leões são um símbolo cristão para a ressurreição, o que, metaforicamente, o dinheiro para o leite produz.
IV – por ser um brinquedo para bebê, dado ao filho de quatro anos, revela o quadro de desnutrição e doença do filho de Naziazeno.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) I e II c) II, III e IV d) I, II e III e) I e IV


2 – Sobre a mulher de Naziazeno, afirma-se:
I – é a responsável pelo sofrimento de Naziazeno, pois, ao invés de trabalhar para ajudá-lo, fica em casa consumindo o dinheiro do marido.
II – representa a submissão feminina ao homem, comum tanto no interior como nas cidades gaúchas.
III – precisa ficar em casa para cuidar do filho doente e, por isso, não pode trabalhar para ajudar o esposo.
IV – não consegue emprego na cidade devido à sua falta de escolaridade, o que a deixa profundamente angustiada.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) apenas a II c) III e IV d) III e) n.d.a.

3 – Sobre Naziazeno, afirma-se:
I – é um homem tolo que deixa escapar todas as oportunidades que a vida lhe oferece para superar sua condição de miséria.
II – revela tendência à loucura motivada por sua condição de classe.
III – representa, de certa forma, o Nazareno, uma vez que, tal como Cristo, tem de percorrer uma espécie de calvário.
IV – é o símbolo do homem simples que não consegue alcançar sucesso por não se adaptar à lógica selvagem de um sistema social injusto.
V – metaforicamente, tal como um rato, vive das migalhas que consegue encontrar após longa peregrinação.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) II, III e IV c) III, IV e V d) III e) apenas a IV

4 – “O trabalho de Naziazeno é monótono, consiste em copiar...” p. 35. Esta citação, em consonância com o conteúdo inteiro do livro, alude a um mito grego no qual uma criatura é condenada a realizar, todos os dias, o mesmo trabalho. Esta criatura é
a) Hércules
b) Herodes
c) Zeus
d) Sísifo
d) Sófocles

5 – A novela Os ratos apresenta crítica à sociedade, entre outros motivos, porque
I – revela a violação contínua que sofre a personalidade de Naziazeno, exposto a uma sociedade que ignora sua condição humana.
II – explora o cotidiano de um indivíduo anulado pelo sistema capitalista, opressor e injusto.
III – expõe o drama do homem cuja vida é limitada pelo dinheiro e, sobretudo, pela falta dele.
IV – explora a psicologia do homem que busca apenas o imediato e não consegue perceber a profundidade de seu drama, o que é fruto de sua alienação, provocada pelo sistema.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) I, II e IV c) III e IV d) I, II e III e) todas estão corretas

6 – O título do livro justifica-se porque
I – no final do romance Naziazeno tem a impressão de que há ratos roendo o dinheiro que conseguira para pagar o leite.
II – Naziazeno e seus amigos são, metaforicamente, como ratos atrás de migalhas, no caso, alguns trocados para pagar o leite.
III – os integrantes da família de Naziazeno vivem como ratos, sobrevivendo com migalhas conseguidas à custa de enormes sacrifícios e da sujeição de Naziazeno a situações desonrosas.
IV – durante todo o livro Naziazeno sente-se como um rato, tendo de percorrer a cidade atrás de migalhas para alimentar seu filho.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) I, II e IV c) III e IV d) I, II e III e) todas estão corretas

7 – Quanto à estrutura do livro Os ratos, afirma-se:
I – é um romance por apresentar apenas um núcleo e a ação terminar no último capítulo.
II – é uma novela porque, ao contrário de um romance, no final a ação fica suspensa, não concluída.
III – é um romance graças ao número de páginas, inferior ao de uma novela.
IV – seu caráter cíclico e a idéia de continuidade do drama de Naziazeno nos próximos dias de sua vida reforçam seu enquadramento no gênero novela.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) n.d.a. c) II e IV d) apenas IV e) apenas II

8 – Sobre a estrutura do livro Os ratos, é correto afirmar que
a) apresenta grande concisão dramática, o que aproxima sua estrutura à de uma peça de teatro.
b) apresenta reciprocidade entre conteúdo e forma, por isso o autor explorou passagens tediosas e angustiantes, a fim de fazer o leitor experimentar a mesma sensação vivida pela personagem.
c) contém passagens eminentemente líricas, reveladas através de uma linguagem substantiva, com pouca utilização de adjetivos.
d) foi inspirada na mitologia grega, sobretudo na estrutura da Ilíada, de Homero.

9 – Percebe-se a filiação ideológica do autor ao marxismo, entre outros motivos, porque
I – explora o cotidiano de um homem simples que não consegue submeter-se à lógica do sistema capitalista e, por isso, é anulado por ela.
II – considera o trabalho como base e sustentáculo da personalidade do indivíduo e revela que um homem, obrigado a um trabalho sem significado, despersonaliza-se.
III – expõe a realidade de uma personagem que, por não saber gerenciar sua vida e seu dinheiro, não consegue ascender socialmente.
IV – revela que a classe baixa desperdiça seu dinheiro quando o tem, como fez Naziazeno ao ganhar dinheiro no jogo, deixando escapar a oportunidade de uma vida melhor graças a sua ignorância.
V – critica o modo de vida da pequena burguesia, que demonstra preguiça para o trabalho e incapacidade de gerenciar seu dinheiro.

Dentre as afirmações acima, estão corretas:
a) I e III b) I e II c) III e IV d) I, II e III e) IV e V

10 – O tempo é uma marca fundamental em Os ratos. Naziazeno angustia-se com o tempo. Está sempre atento aos relógios, ao andar dos ponteiros. Seu trabalho consiste em copiar. Um pernilongo gira em torno dele. Ele ganha dinheiro na roleta. Estes e outros símbolos reiteram a cada momento
a) a sondagem psicológica realizada pelo autor na personagem Naziazeno.
b) a insignificância de Naziazeno, que não consegue se concentrar em seu objetivo de arranjar o dinheiro do leite.
c) a idéia de circularidade, de que tudo conduz Naziazeno à repetição, á imutabilidade de sua atual condição.
d) o tédio e a angústia presentes na vida da personagem, atormentada pela sua inferioridade diante dos amigos.

Gabarito das questões sobre o livro Os ratos, de Dyonelio Machado

1 C 6 D
2 E 7 C
3 C 8 B
4 D 9 D
5 E 10 C

Seminário Dois irmãos, Milton Hatoum

HATOUM, MILTON
DOIS IRMÃOS


Notar epígrafe: “a casa foi vendida com [...] seus imponderáveis”
Zana morre após perguntar se os filhos haviam feito as pazes e não obter resposta. 9-10
O pai é o Halim.
Os gêmeos são Yaqub e o caçula Omar. A irmã é a Rânia. A empregada é a Domingas.
Yaqub passara cinco anos no Líbano. Ele volta.
Estamos em 194...
Voltamos para antes da morte de Zana. Vamos fazer um círculo, retornar ao início próximo do final e seguir um pouco adiante.
Yaqub evita as palavras, esquecido do idioma.
Rânia é a irmã.
Lívia é a garota que aos treze anos Yaqub perdeu para Omar, num baile de carnaval. P. 15
Yaqub “Não entendia por que Zana não ralhava com o Caçula, e não entendeu por que ele, e não o irmão, viajou para o Líbano dois anos depois.” 16
Ele já não é mais o rígido que o pai vira, é o tímido, fraco, derrotado que ele próprio vê. 16
Domingas é a empregada, quase sua mãe. 17
19 A cumplicidade entre Zana e o Caçula, e a inquietação de Halim e Yaqub observando a cena. “Yaqub apenas estendeu a mão direita e cumprimentou o irmão. Pouco falaram, e isso era tanto mais estranho porque, juntos, pareciam a mesma pessoa.” 20
Quem é o Narrador?
22 Omar corta Yaqub com uma garrafa porque Lívia o beijara no rosto. Produz uma cicatriz, ridicularizada pelos colegas de escola. “Ele engolia os insultos, não reagia.” 23 Isso é que fez Halim decidir pela viagem, pela separação.
Yaqub não respondeu nenhuma das centenas de cartas da mãe. 23
O narrador morava na casa...
“um tímido que podia passar por conquistador.” 24: Yaqub, por quem as meninas suspiravam. Mas ele só plantava o amor; ao invés de colhê-lo, estudava gramática. Era bom em matemática.
Omar é um beberrão. 26 Yaqub renunciava à juventude. 25
Após ser reprovado por dois anos seguidos, Omar é expulso do colégio. 27

O narrador: “para Zana eu só existia como rastro dos filhos dela.” 28
Yaqub vai estudar em São Paulo, enquanto Omar no Galinheiro dos Vândalos.
O narrador desconfia de que acontecera alguma coisa enquanto Yaqub era pastor de ovelhas no Líbano. 31
O texto não é nada cronológico. Segue conforme a memória do narrador.
Yaqub não aceita o dinheiro dos pais quando vai a São Paulo. “Nem um centavo” 33 Omar sente-se derrotado com a partida do outro. Antes de viajar, Yaqub transa com Lívia.

2 – p. 36 a vida de Zana quando jovem e o encontro com Halim, no restaurante do pai dela, Galib. Ele só consegui declarar-se a ela bêbado, porque “o coração de um tímido não conquista ninguém.” 38
Ela mandava em tudo; ele, paciente, obedecia, eternamente apaixonado.

Yaqub envia uma carta no final de cada mês. 44 Em seis meses ele já era professor de matemática. Ingressa na USP para cursar engenharia.
“Por fora, era realmente outro. Por dentro, um mistério e tanto: um ser calado que nunca pensava em voz alta.” 45
NOTAR: as fotografias de Yaqub pela casa sufocam a presença de Omar. A ausência de Yaqub faz dele mais presente do que quando estava ali de fato. 46
Domingas, uma índia, fora adotada pelo casal. Ela é uma espécie de ama ou escrava, “louca para ser livre”. 50 A GENTE VAI DESCOBRINDO AS COISAS CONDUZIDOS PELO NARRADOR.
48-49 O casal é exaltado no sexo.
Zana queria filhos, Halim não, e tê-los transforma sua vida em algo ruim, ela que fora outrora tão prazerosa ao lado de Zana. Ele não gostava de Omar, que era o preferido de Zana.
“Os filhos haviam se intrometido na vida de Halim, e ele nunca se conformou com isso.” 53
O narrador interrogava Halim e Domingas, do que tirou o conteúdo do que nos narrou até aqui.
54 O narrador não sabe qual deles, mas desconfia de que um dos gêmeos seja seu pai. A certeza é de que Domingas é sua mãe.
54-55 A triste história de Domingas – sua orfandade, o inferno vivido no orfanato das freiras.
59 Acho que ele é filho do Yaqub.
Zana pedia para ele xeretar os vizinhos e lhe contar o que via. 63-64
65 Zana o impedia de ir à escola, mandando-o fazer trabalhos e por isso obrigando-o a faltar três vezes por semana. Ele sofre. “Eu bem podia fazer essas coisas à tarde, mas ela insistia, teimava. Eu atrasava as lições de casa, era repreendido pelas professoras, me chamavam de cabeça-de-pastel, relapso, o diabo a quatro. Fazia tudo às pressas, e até hoje me vejo correndo da manhã à noite, louco para descansar, sentar no meu quarto, longe das vozes, das ameaças, das ordens.” 65 O Caçula também o inferniza.
Notar que Rânia até aqui é quase invisível.
66 A rivalidade entre Omar e o pai. O narrador quer fugir, libertar-se. “A imagem de minha mãe crescia na minha cabeça, eu não queria deixá-la sozinha nos fundos do quintal, não ia conseguir...” 66 “Então, fiquei com ela, suportei a nossa sina.” 66-67
“Omissões, lacunas, esquecimento. O desejo de esquecer. Mas eu me lembro, sempre tive sede de lembranças, de um passado desconhecido, jogado sei lá em que praia de rio.” 67
68 Halim e a bofetada em Omar e os dois dias que este ficou acorrentado.
69 Yaqub casara em São Paulo. Com quem será que foi? ...
69 Rânia e Omar, ela com desejo de um noivo, ele excitando-a. Ela era bonita e evitava festas. Sua reclusão foi provocada por uma discussão com a mãe. 70
Rânia passa a trabalhar com o pai e, astuta, faz os negócios prosperarem. Agora ela deixou de ser insignificante.
Ela despreza todos os pretendentes.
O narrador a deseja. “Rânia causava arrepios no meu corpo quase adolescente. Eu tinha gana de beijar e morder aqueles braços.” 72
“Talvez Rânia quisesse pegar um daqueles pamonhas e dizer-lhe: Observa o meu irmão Omar; agora olha bem para a fotografia do meu querido Yaqub. Mistura os dois, e da mistura sairá o meu noivo.” 73
Halim torce para que uma das mulheres de Omar o leve para bem longe. “Mas ele intuía que Zana era mais forte, mais audaciosa, mais poderosa.” 74
78 A mãe pede que Yaqub abrigue Omar em São Paulo, porque ela quer evitar que ele fique com uma dançarina de maloca. Yaqub escreve que pode alugar um quarto para o irmão, mas jamais abrigá-lo sob seu teto.
Omar vai, fica seis meses e depois desaparece. Retornara a Manaus.
Acho que a própria Domingas não sabe de quem o narrador é filho.
83 A primeira visita de Yaqub à família.
Sobre Rânia: “Como ela se tornava sensual na presença de um irmão! Com esse ou com o outro, formava um par promissor.” 87
88 insinua um incesto.
88-89 Yaqub continua profundamente amargurado por seu exílio no Líbano.
91-92 Omar tinha viajado pelos EUA, aventureiro, com o passaporte e muito dinheiro que roubara de Yaqub.
A esposa de Yaqub é Lívia! 93

96 “Noites de blecaute no norte, enquanto a nova capital do país estava sendo inaugurada. A euforia, que vinha de um Brasil tão distante, chegava a Manaus como um sopro amornado. O futuro, ou a idéia de um futuro promissor, dissolvia-se no mormaço amazônico.”
Yaqub ajuda a família, reformando a casa. “Na breve visita que fez a Manaus, deve ter notado e anotado todas as carências da casa, dos parentes e empregados.” 96

NOTAR: O narrador está tentando “recompor a tela do passado”, ansioso para conhecer a si mesmo.
101 Omar metamorfoseia-se em anjo, apaixonado pela Pau-Mulato. Ele até começa a trabalhar num banco.
104 Zana descobre a verdade: Omar tornara-se contrabandista, levado pela Pau-Mulato. Ela contrata um detetive e arquiteta a ruína dos planos do filho.
Omar sai de casa, com suas malas, gritando ofensas.
112 Halim trará Omar de volta para interromper a “santimônia” de Zana, ou seja, sua abstinência sexual.

114 A luta de Halim com Azag, que o difamara. Halim sai vitorioso, macho.
Halim se empenha na busca por Omar: uma verdadeira caçada.
Notar também as histórias das personagens secundárias. Ex.: o peixeiro 123, Adamor, o Perna-de-Sapo. Ele é quem encontra o Omar, a pedido de Zana. 127
Omar virara pescador. “Careca e barbudo. Bronzeado, quase preto de tanto sol. Mais magro, mais esbelto, no peito um colar de sementes de guaraná. Descalço, usava uma bermuda suja, cheia de furos. Não perecia o Peludinho cheiroso da Zana”. 129
Omar, de volta para casa, quebra tudo, xinga o irmão ausente, enciumadíssimo, invejoso, ainda apaixonado por Lídia. 129 Rasga as fotos de Yaqub.

Omar estava virado num quase bicho. Incrível o que a inveja é capaz de fazer.
O poder da mãe vence, e Omar “Preferiu as putas e o conforto do lar a uma vida humilde ou penosa com a mulher que amava.” 134 “Tornou-se infantil, envelhecido, com longos intervalos de silêncio, como certas crianças que renunciam ao paraíso materno ou adiam a pronúncia da primeira palavra inteligível.” 134
O narrador: “Sempre vale a pena concluir alguma coisa.” 135
136 Concordamos com Halim que Omar é um frouxo, um covarde. Foi isso que ele sempre foi, e mau.
Rânia trabalha dobrado para sustentar “aquele parasita”. 140
Laval, o excêntrico professor de literatura, é preso e morto, ao que me parece pela DITADURA.
145 Yaqub de volta. Os soldados neste momento estão por toda parte.
149 FORTE CRISE POLÍTICO-MILITAR.
Notar que o Narrador é o filho da empregada, e, talvez por sua inferioridade, seja escritor.

155 O narrador transa com Rânia: “Aquela noite foi uma das mais desejadas da minha vida.” 155 Ela confessa que um dia, com quinze anos, amou um homem, mas a mãe impediu porque ele era um pé-rapado. “Gostaria de ter passado muitos sábados ajudando-a na loja, mas ela não me pediu mais.” 156
157 Omar está com uma gonorréia galopante.
Estamos na década de 60.
159 Halim desaparece na véspera do Natal de 1968.
Volta sem ninguém ver. Senta no sofá e é encontrado calado, de braços cruzados, para sempre. PENSAR NOS SÍMBOLOS DA CENA.

Omar brincando de ser jardineiro, trabalhando. “O corpo dele ficou empolado, a pele e os dedos dos pés com crostas de impingem. Só faltou trocar os braços por asas. O querubim. O santinho da casa.” 161
“O viúvo Talib chegou a tempo de evitar um confronto entre o filho vivo e o pai morto.” 163 Omar enlouquecido gritando contra o pai. O narrador também o desafia, chamando-o covarde.
Zana sofre muito com a morte de Halim, mesmo tendo eles estado tão distantes um do outro.
NOTAR: “Depois da morte de Halim, a casa começou a desmoronar.” 165
166 Zana manda Omar trabalhar, “parar com essa mania de desocupado”, porque agora “tu não tens pai”. Ela não esquecera a afronta que o filho fizera ao finado.
Zana se fecha em seu luto. “O que eu mais quero é paz entre os meus filhos. Quero ver vocês juntos, aqui em casa, perto de mim... Nem que seja por um dia.” 168
Rochiram, um indiano riquíssimo amigo de Omar, interessa-se por Zana.
“Aos poucos, Zana saiu da clausura, destravou a língua, se interessou pelo amigo do filho.” 169
Domingas prevê que o estrangeiro estragará mais o Caçula, 170 premonição.
O estrangeiro constrói hotéis. Zana vê nisso uma oportunidade de os filhos trabalharem juntos. 170 “Yaqub faria os cálculos do edifício, Omar poderia ajudar o indiano em Manaus,”
NOTAR 170: a carta de Zana tentando uni-los.
Caim e Abel, Esaú e Jacó. NOTAR.

173 Yaqub vem de novo mas se hospeda num hotel modesto porém pacato.
Yaqub quer que o narrador cresça profissionalmente.
175 Omar espanca Yaqub, surpreendendo-o pelas costas.
Escondem a briga de Zana. Yaqub apanhou pra valer: perdeu três dentes e teve dois dedos fraturados.
Yaqub traíra Omar: negociara com Rochiram às escondidadas dele.
O nome do narrador é Nael, e foi escolhido por Halim, porque este era o nome de seu pai.

NOTAR: 180 Domingas transava com Yaqub; Omar, enciumado, estuprou-a.
Omar, depois de surrar Yaqub, desapareceu, fugindo de uma possível vingança.
182 Domingas morre na rede de Omar que ela amara em seu quarto. Ela é enterrada ao lado de Halim.
“Naquela época, tentei, em vão, escrever outras linhas. Mas as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, acenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras [...]” 183
184 Rânia se muda para um bangalô.
184 A primeira queda e fratura de Zana. Ela permanece em sua casa, convivendo com fantasmas.
Rânia está aflita com a ameaça de Rochiram processá-los pelo fracasso do negócio do hotel.
Rânia continua enfeitiçando os homens com sua beleza.
186 Zana fala com o narrador. Ele apenas ouve.
Zana chora sempre, com saudade de OMAR.
Rochiram pega a casa em troca da dívida e Zana vai morar com Rânia no bangalô.
Zana “morreu quando o filho caçula estava foragido”. 190 AQUI CHEGAMOS ONDE ESTÁVAMOS NO COMEÇO.
A casa vira a Casa Rochiram, com quinquilharias importadas e freqüentada por gente da altíssima sociedade.
O narrador ficou num quadradinho no fundo do quintal. Sua herança, conforme murmurara Rânia. 190

191-192 Yaqub arquitetara a prisão de Omar para após a morte de Zana.
Omar gastava e Rânia já não tinha mais como pagar suas festas e mulheres. “Ela sabia: tinha que poupar dinheiro para o que viria depois.” 192
“Cedo ou tarde, o tempo e o acaso acabam por alcançar a todos.” 193
193 Omar é preso pela polícia na praça, como Laval. Ele faz “uma brusca descida ao inferno”, na prisão. 194 Foi condenado a dois anos e sete meses.
Rânia escreve a Yaqub, indignada, “o que ninguém ousara dizer”. 194
195 O narrador não trabalha mais para Rânia.
Omar sai. Rânia o quer com ela em casa, mas ele se esquiva.
Yaqub escreve a Nael, e só fala para ele cobri o túmulo de Halim e Domingas de flores e pergunta se ele não precisa de nada. Nem resvala em Rânia ou Omar.
O narrador: “Queria distância de todos esses cálculos, da engenharia e do progresso ambicionado por Yaqub”. 196
“O futuro, essa falácia que persiste.” 196

“A loucura da paixão de Omar, suas atitudes desmesuradas contra tudo e todos neste mundo não foram menos danosas do que os projetos de Yaqub: o perigo e a sordidez de sua ambição calculada.” 196
“O que Halim havia desejado com tanto ardor, os dois irmãos realizaram: nenhum teve filhos. Alguns de nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos.” 196

197 Nael é professor.

Lembrar do bestiário esculpido por Domingas: o trabalho que lhe dava prazer: “os únicos gestos que lhe devolviam durante a noite a dignidade que ela perdia durante o dia.” 197
197-198 Omar o fixa, olhando-o emudecido. Não pede perdão pela desonra a Domingas. “recuou lentamente, deu as costas e foi embora.” 198





Mulheres que Omar amou: Dália, a mulher prateada; e a Pau-Mulato, mas a Lídia foi sempre sua grande paixão.

sábado, 11 de abril de 2009

Seminário Os ratos, de Dyonelio Machado

MACHADO, DYONÉLIO

Os ratos


1934
Naziazeno está devendo para o leiteiro 53 mil-réis.
Notar a esposa e os vizinhos, que espiam suas brigas. A esposa, Adelaide, não trabalha. Naziazeno tenta convencer a mulher, e também a si mesmo, de que o leite é tão supérfluo quanto a manteiga e o gelo, cujo fornecimento fora anteriormente cortado. O leite é seu último luxo.
Ela: “tu não vês que uma criança não pode passar sem leite?...” 10
Naziazeno ama o filho.

Naziazeno também ama a esposa, com seu jeito tímido, mas “A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 26
“Também a sua mulher com os outros é tímida, tímida demais. Fosse a mulher do amanuense, queria ver se as coisas não marchariam doutro modo. Ela se encolhe ao primeiro revés. Foi esse ar de ingenuidade, de fraqueza que o tentou, bem se recorda. E como não havia de se recordar, se é ainda esse mesmo ar de fraqueza, de pudor, de coisa oculta e interior que lhe alimenta o amor, a voluptuosidade? Mas é um mal na vida prática. Ele precisava de um ser forte a seu lado. Toda a sua decisão se dilui quando vê junto de si, como nessa manhã, a mulher atarantar-se, perder-se, empalidecer. É o primeiro julgamento que ele recebe [...] A sua mulher encolhida e apavorada é uma confissão pública de miséria humilhada, sem dignidade – da sua miséria.” 19
Notar que o que se repete na cabeça de Naziazeno é a esposa repisando o que o leiteiro dissera: que iria deixar de trazer o leite se não pagassem. 20
Naziazeno mortifica-se por ter de pedir dinheiro adiantado ao chefe. Já pedira uma vez para pagar injeções necessárias ao filho doente.
O Duque: “um batalhador. Tem a experiência... da miséria.” 24
“Além do mais, um jornal é útil, numa ‘situação dessas’. É pelo menos o que pensa o Duque, que sempre percorre certos anúncios do jornal... Mas não, ele não saberia tirar coisa nenhuma do jornal.” 26
“ele faz (desta vez, como de outras) deste negócio – o ponto único, exclusivo, o tudo concentrado da sua vida. Assim foi quando da volta do filho à saúde.” 30
ANTES DE FALAR COM O CHEFE: “A luzinha, Naziazeno, de volta do cais, ainda a acompanha, no seu pisca-pisca, até que, num ângulo de rua, ela desaparece, oculta no casario.” 30 PLATÃO, DE NOVO, COM SUA ALEGORIA DA CAVERNA.
O livro também mostra o modo como o funcionalismo público opera (ou não opera) no Brasil. “O caminho é aberto entre maquinarias, materiais, ferros. Muita coisa se deteriora à intempérie.” p. 34
“O trabalho de Naziazeno é monótono: consiste em copiar num grande livro cheio de ‘grades’ certos papéis, em forma de faturas. É preciso antes submetê-los a uma conferência, ver se as operações de cálculo estão certas. São ‘notas’ de consumo de materiais, há sempre multiplicações e adições a fazer. O serviço, porém, não exige pressa, não necessita ‘estar em dia’. – Naziazeno ‘leva um atraso’ de uns bons dez meses.” p. 32-33
Ele não tem nada para empenhar, exceto a roupa do corpo.
O relógio da prefeitura “parece-lhe uma cara redonda e impassível...” 37
Saiu para aconselhar-se com o Duque, porque o diretor da repartição não estava. Encontra Alcides, que parece tentar ajudar. Aconselha a não édir dinheiro para o chefe.
O Fraga é o vizinho de Naziazeno.
Notar a grande quantidade de reticências...
Naziazeno se pergunta porque não aproveitava o tempo para fazer biscates: “Mas onde estão os negócios? Onde estão? Ele nunca ‘via nada’, era a aptidão que lhe faltava...”44
Alcides toma uma atitude: jogará no bicho enquanto Naziazeno tenta emprestar dinheiro com o diretor.
Naziazeno sabe que se pedir aos colegas não receberá. “’vê-se’ no meio da sala, atônito, sozinho, olhano pra os lados, pra todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com pés de ratos...” Eles também são como ratos, todos eles.
“Aquele canto de sarjeta tem o que ele nunca mais encontrou no seu mundo: o repouso feliz, o aconchego humano, seguro e imutável. Ele quer ir!” 47
O diretor da repartição recusa o adiantamento na frente de todos os colegas, que riem. “Naziazeno espera que ele lhe dê as costas, vá reatar a palestra interrompida, aquelas observações sobre a questão social, comunismo e integralismo.” p. 48 (notar a ironia) O Diretor dissera o NÃO olhando para todos, mas sem fitar Naziazeno.
“Tudo mais desapareceu da cabeça de Naziazeno: só ficou o diretor, com o olhar aceso e a cara de pedra, dizendo-lhe aquilo. Os risos do Dr. Rist e dos outros, as fisionomias enrugadas de prazer, haviam-lhe chegado ao olhar e à compreensão como coisas soltas no espaço, sem ‘fundo’ e sem meio ambiente; curvada sobre ele, dura e estranha, a pessoa do diretor enche-lhe toda a visão...” 50-51
“Idealizar outro plano? Tem uma preguiça doentia. A sua cabeça está oca e lhe arde, ao mesmo tempo.” 53
Vai à casa o Andrade tentar cobrar uma comissão que este deve ao Alcides. 58 Tivera esperança de conseguir... Na 60, ela desvanece, antes de chegar...
59
68 Ele está pensando novamente no almoço...
69 Decide ir falar com Mister Rees, que era de quem Alcides podia receber aquela tal comissão, conforme o Andrade lhe dissera. Mas o Rees está viajando, no Rio, e Naziazeno fica aliviado, pois ficara nervoso, não saberio o que dizer se ficasse diante dele.
Está faminto. “É preciso comer...” 70
O tempo é marcado como o pensamento (descontínuo). Repare na angústia presente na estrutura: RECIPROCIDADE ENTRE CONTEÚDO E FORMA, ou seja, o narrador tem a intenção de nos fazer sentir a angústia por que passa o personagem.
Naziazeno pede dez mil réis a um amigo para o almoço. Recebe apenas cinco. Pensa em jogar os cinco para vê-los multiplicarem-se. Pensa em tomar um café, mas acaba pedindo água.
Deposita tudo no 28. GANHA. Recebe 75 mil réis. “Tudo resolvido assim num segundo... Fita a cara do croupier, olha pra os lados!... Estará mesmo neste mundo? neste dia?...”
Compra fichas. Acaba perdendo tudo. A roleta conclui seu ciclo.
O capítulo 13 é o do jogo. Perfeito.
Pede emprestado a mais outro, que também lhe nega. 96
99
101 O sol como “moeda em brasa”.
Notar que enquanto Naziazeno, faminto e angustiado, caminha pela cidade, vai reparando no luxo das casas e dos automóveis. E ele com fome. Angustiado e faminto, cercado pelo luxo que é dos outros.
Reencontra com Alcides. Fica tonto. Está faminto, é natural que fique tonto. Pede apenas um cafezinho.
Consegue falar com Duque.
“Nazizazeno ‘vê’ o sol, uma moeda em brasa suspensa num vapor avermelhado e espesso.” 109 Notar que o verbo ver, quando atrivuído a Naziazeno, aparece entre aspas.
“Duque volta-se inteiramente para o lado de Naziaaeno. Avança-lhe um focinho sereno e atento. O olhar tem uma fixidez meio triste.” 111
“Ao seu lado, Naziazeno ergue-lhe um focinho humilde. Vai fazendo gestos de aquiescência com a cabeça.” 114
“Os quadros mais disparatados passam pela imaginação de Naziazeno. [...] É a seu pesar que essas imagens se metem na cabeça, porque ele não quer pensar... não quer pensar...” 114
Ele recomenda um agiota. O agiota, ao qual dirigira-se o Alcides, não empresta.
O “dr.” Mondina, amigo do Duque, também não empresta.
Duque vai com Naziazeno a outro agiota. Este também não empresta. Vão a outro. Que também não empresta.
Notar que Duque e Alcides tentam ajudar Naziazeno.
Vão desempenhar um anel e tentar empenhá-lo por uma quantia maior, mas a casa de penhores já está fechada.
Notar o ridículo dos quatro, Duque, Mondina, Alcides e Naziazeno, entrando na casa do dono da casa de penhores para propor-lhe negócio.
Agora andam os cinco para a casa de penhores. Resgatam o anel com dinheiro emprestado por Mondina.
Tentam empenhar o anel num joalheiro. Não conseguem: ele recusa o negócio.
Naziazeno pensando na mulher: “o seu ar de pobreza, aquele focinho quieto e manso que vem ali a seu lado, tiram-lhe qualquer ilusão. Um freio e um amargo sobem-lhe pelas vísceras acima...” 117
Duque e Naziazeno vão pedir dinheiro ao Fernandes. Depois ao Assunção. De um agiota a outro.
118
121
Notar a determinação de Alcides e Duque em ajudar Naziazeno. O Mondina vai junto, esperando lucrar alguma coisa com a desgracença do outro.
Chegam à casa do agiota Martinez. 126 Esperam no topo da escada, pisoteando-se. Acompanham-no à casa de penhor.
Uma mole, um tropel. Recuperam o anel.
“Martinez toma o rumo da praça. Lá vão os seus pés, num martelar ligeiro e miudinho.” Ver página.
Vão ao Dupasquier empenhar o anel. Não dá certo.
A transação está difícil. O “dr.” Mondina não tem interesse em outro negócio pois parece um truque, ele quer ganhar com garantias...
“É um sono o que tem agora Naziazeno. É só um sono...” 142
143 Naziazeno chega em casa já noite, com os embrulhos. A mulher pergunta-lhe do dinheiro. Ela enrubece com a manteiga. Ele também reavera o sapato dela, há muito tempo no sapateiro. Ele trouxe também queijo e um brinquedinho para o filho, leões, símbolo de ressurreição (Naziazeno – Nazareno, ele um Cristo na era do capitalismo). O brinquedo é de criança pequena, mas o menino já tem quatro anos. Contudo quatro anos desnutridos que mal valem por dois.
“- Tive um dia brabo hoje, Adelaide.” 151 “- Depois te conto. Não sabes como m custou esse dinheiro. Mas está aqui.”

Arranjara emprestado com o Duque e o Alcides. Não tem prazo para devolver.
156 Agora ele reflete, tranquilo.
158 Desiste de ler alguma coisa.
159 A dor, e ele não conseguira saber o que era aquela “luzinha”.
160 De novo a claridade. Parece Insônia, do Graciliano. 162 O relógio, a modorra. Ele não têm relógio em casa.
A mulher ronca. Adormecera imediatamente.
Notar que não houve nenhum carinho por parte de nenhum dos dois antes de dormirem, nem em momento algum. Naziazeno sente-se sozinho deitado, ainda que ao lado da esposa, “num temor vago e pueril das surpresas das sombras, da solidão...” p. 130
Naziazeno sente que quer bem ao leiteiro por ter-lhe proporcionado aquela satisfação, mas sobretudo por permitir-lhe perceber que tinha amigos que se dispunham em valer-lhe nas horas de aperto.
p. 174 Naziazeno lembra que um dia, à hora do almoço, encontrara o leiteiro em casa... Notar seu ciúme e desconfiança.
Naziazeno lembra que o Mondina não tinha troco, só levava consigo notas graúdas (quando pegara o anel).
“É estranho: um cansaço tão grande e não conseguir conciliar o sono...” 163
Tenta fixar a ideia num círculo, “um círculo luminoso”. 165
165
“Amanhã vai falar à mulher. Vai ver se dão um jeito naquela luz. É ela que não o está deixando dormir.” 167
“O que é que vai fazer para dar uma solução definitiva à sua vida? O que é?” 168
“Sente o estômago repleto, a cabeça fortalecida.” 172
A mulher NANA o filho de quatro anos! Porque ele principiara um choro tímido.
“O zumbido dum mosquito descreve um arco (um arco!) por cima da su cabeça...” 174
“Um jornal... Duque sabe tirar partido da leitura dum jornal... Certos anúncios... Não pode imaginar como. / Ele não saberia fazer nada com o jornal.” 178
“Duque então se volta para Naziazeno. / O seu focinho é sereno. O dorso meio curvo, um tanto baixo...” 181
183 Descrição do local onde Naziazeno mora.
Notar que, tendo o dinheiro, há outra odisseia para trocá-lo e obter os miúdos. Emprestaram 65 mil-réis para Naziazeno.
Capítulo 26 – Naziazeno se lembrando do dia.
Quase no final, enquanto Naziazeno se esforça para conseguir dormir, ouve (ele ouve) o guincho miudinho de ratos. “A casa está cheia de ratos...” 190
Notar que ele quer levantar-se, mas hesita. Acaba não levantando. “Os ratos vão roer – já roeram! – todo o dinheiro!...” 190 Esta parte é perfeita, ele só escuta, assustado mas impotente.
191
O leiteiro despeja o leite.
“Fecham furtivamente a porta... Escapam passos leves pelo pátio... Nem se ouve o portão bater...
E ele dorme.” 157
ESTE FINAL É ABSOLUTAMENTE PERFEITO.


Observações:
28 capítulos que narram um único dia.
“nota-se que a história se subjetiviza segundo a perspetiva da personagem, mediantea narração em estilo indireto livre, que molda o mundo a partir do prisma de quem o vê.” 201 “existência como dolorosa caminhada.” 202
NOTAR A CIDADE: “Ela pode ameaçar Naziazeno, como um bloco inteiriço ou pelas brechas do tempo que se escoa; por vezes, é o lugar da solidão e da estranheza, da rua que parece outra, do deserto onde ele se perde e sonha em vão com o retorno à casa.” 202
“A alegoria política é só uma das possibilidades de significação da narrativa. Mais radical é a metáfora da existência degradada pela alienação [...], pela perda da própria substêancia humana, que acaba por reduzir o homem à condição inferior, à deformidade social e psicológica, confundindo-o, enfim, com o animal mais vil.” 207
Sugere que Naziazeno é “o que” se dará com Fabiano quando este chegar à cidade, conforme sonhava.
Ao contrário da maioria dos outros livros do gênero, em Os ratos o protagonista tem um emprego.
Notar os círculos, inclusive a roleta do cassino, o sol como moeda em brasa, o voo do mosquito.
O mito de Sísifo, da mitologia grega (fazer todos os dias a mesma coisa).
Notar os símbolos.
Drama da pequena burguesia brasileira.
Violação contínua da personalidade.
Narrativa sobre o indivíduo anônimo.
Uma nova ficção urbana.
Monotonia e angústia impressa na forma do texto: reciprocidade.
Profundo desgaste existencial da personagem.
Os ratos (isto, aquilo, este, aquele etc.) e o dinheiro como limites na vida de Naziazeno.
A busca pelo imediato e a impossibilidade de perceber a profundidade do drama: alienação.
A moeda e o trabalho (o sistema) anulando o sujeito.
Notar que Naziazeno não é paupérrimo, o que torna a crítica mais aguda, porque o autor não está falando dos extremos, e sim da classe média da época.
Notar também que o problema é particular, não é a seca ou a chuva, refere-se ao indivíduo.
Naziazeno não é um tipo, porém os personagens que estão à sua volta são.
Notar também que parece haver cenas em câmera lenta (talvez uma influência do cinema (?).
Não se resolve o problema da existência, somente o do leiteiro.

Seminário Vidas Secas, de Graciliano Ramos


RAMOS, GRACILIANO
VIDAS SECAS


Comparar com Os ratos, de Dyonélio Machado: “Ele [Fabiano], a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos [...]” 18

O menino mais velho não consegue mais caminhar. “O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário, e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.” 10
Acaba carregando o menino.
“Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida.” 11
“Sinha Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão.” NOTAR que ela pensa em coisas que lhe deram prazer, no passado, não na seca, no presente. Ela, porém, é quem resolve aproveitar o papagaio como alimento: “justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil.” 12
Chegam “no pátio de uma fazenda sem vida. [...] tudo anunciava abandono.” 12
“Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinha Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava.” 14
14 Baleia traz-lhes um preá que caçara nas redondezas: “Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver.” 14
Fabiano “Pensou na família, sentiu fome caminhando, movia-se como uma coisa, para bem dizer não se diferençava muito da bolandeira de seu Tomás.” 15
“Ia chover. Bem. A catinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, sinha Vitória vestiria saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a catinga ficaria toda verde.” 15 Fabiano imaginando em discurso indireto livre.
NOTAR ESTE DISCURSO INDIRETO LIVRE.
Fabiano “agitava os braços para a direita e para a esquerda. Esse movimentos eram inúteis, mas o vaqueiro, o pai do vaqueiro, o avô e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumados a percorrer veredas, afastando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir o gesto hereditário.” 17-18
18 Fabiano afirma a si mesmo que é um homem. E depois rejeita sua afirmação, refuta-a, conclui que é um bicho.
O patrão voltara, expulsara-os. Fabiano ofereceu seus serviços e ficaram. 19 O patrão mora na cidade.

“O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.” 19
Fabiano “Vivia longe dos homens. Só se dava bem com os animais.” 20
Fabiano sequer compreende o que os filhos lhe perguntam. Nestes momentos, repreende-os. 20
“Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.” 20
Vai falar com sinha Vitória sobre a educação dos meninos. “eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.” “Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito.” 22

“Seu Tomás da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia. Esquisitice um homem remediado ser cortês. Até o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele. An! Quem disse que não obedeciam?
Os outros brancos eram diferentes. O patrão atual, por exemplo, berrava sem precisão. Quase nunca vinha à fazenda, só botava os pés nela para achar tudo ruim.” 23
“Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da Bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem.” 23
Explicação ao Jeca Tatu: “A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.” 24

“Não, provavelmente não seria homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia.” 24 Fabiano transcenderá nos filhos: “Mas depois? Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo. Passara dias sem comer, apertando o cinturão, encolhendo o estômago. Viveria muitos anos, viveria um século. Mas se morresse de fome ou nas pontas de um touro, deixaria filhos robustos, que gerariam outros filhos.”


Os filhos, “se não calejassem, teriam o fim de seu Tomás da bolandeira. Coitado, Para que lhe servira tanto livro, tanto jornal? Morrera por causa do estômago doente e das pernas fracas.” 25
Na cidade, Fabiano tem a sensação de que todos os vendedores o enganam. Esta sensação será também sua ruína.
Vai jogar o trinta e um com o soldado, obedecendo. “Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.” 28
Fabiano se irrita porque perdeu. Não sabe o que dirá para sinha Vitória. Não tem imaginação para mentir.
É insultado por ter saído da bodega sem se despedir, o soldado pisa-lhe sobre os pés. Fabiano, xingando a mãe do soldado, acaba detido por outros chamados por este. 31
“Por que tinham feito aquilo? Era o que não podia saber. Pessoa de bons costumes, sim senhor, nunca fora preso. De repente um fuzuê sem motivo. Achava-se tão perturbado que nem acreditava naquela desgraça. Tinham-lhe caído todos em cima, de supetão, como uns condenados. Assim um homem não podia resistir.” 31
“Por mor de uma peste daquela [o soldado amarelo], maltratava-se um pai de família.” 32
“E, por mais que forcejasse, não se convencia de que o soldado amarelo fosse governo. Governo, coisa distante e perfeita, não podia errar. O soldado amarelo estava ali perto, além da grade, era fraco e ruim, jogava na esteira com os matutos e provocava-os depois. O governo não devia consentir tão grande safadeza.” 33
“Tinham lá coragem? Imaginou o soldado amarelo atirando-se a um cangaceiro na catinga. Tinha graça. Não dava um caldo.” 34
“E Fabiano aperreava por causa dela, dos filhos e da cachorra Baleia, que era como uma pessoa da família, sabida como gente.” 34

“Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? “ “Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha?” 35
“Se não fosse aquilo... Nem sabia. O fio da idéia crescendo, engrossou – e partiu-se. Difícil pensar. Vivia tão agarrado aos bichos... Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares. O demônio daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para um cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino, encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos.” 35
“Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. O que lhe amolecia o corpo era a lembrança da mulher e dos filhos. Sem aqueles cambões pesados, não envergaria o espinhaço não, sairia dali como onça e faria uma asneira. Carregaria a espingarda e daria um tiro de pé de pau no soldado amarelo. Não. O soldado amarelo era um infeliz que nem merecia um tabefe com as costas da mão. Mataria os donos dele. Entraria num bando de cangaceiros e faria estrago nos homens que dirigiam o soldado amarelo. Não ficaria um para semente. Era a idéia que lhe fervia na cabeça. Mas havia a mulher, havia os meninos, havia a cachorrinha.” 37
“Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.” 37
Sinha Vitória “Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada e com sentimentos revolucionários.” 40

A cama de vara X cama de lastro de couro. 40

Sinha Vitória pensando: “Agora pensava no bebedouro, onde havia um líquido escuro que bicho enjeitava. Só tinha medo da seca.
Olhou de novo os pés espalmados. Efetivamente não se acostumava a calçar sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a. Pés de papagaio. Isso mesmo, sem dúvida, matuto anda assim. Para que fazer vergonha à gente. Arreliava-se com a comparação.
Pobre do papagaio. Viajara com ela, na gaiola que balançava em cima do baú de folha.” 43
“Bem no meio do catre havia um nó, um calombo grosso na madeira. E ela se encolhia num canto, o marido no outro, não podiam estirar-se no centro. A princípio não se incomodara. Bamba, moída de trabalhos, deitar-se-ia em pregos. Viera, porém, um começo de prosperidade. Comiam, engordavam. Não possuíam nada: se se retirassem, levariam a roupa, a espingarda, o baú de folha e troços miúdos. Mas iam vivendo, na graça de Deus, o patrão confiava neles – e eram quase felizes. Só faltava uma cama. Era o que aperreava sinha Vitória. Como já não se estazava em serviços pesados, gastava um pedaço da noite parafusando. E o costume de encafuar-se ao escurecer não estava certo, que ninguém é galinha.” 45
Ela pensando: “Por que não tinham removido aquela vara incômoda? Suspirou. Não conseguiam tomar resolução. Paciência. Era melhor esquecer o nó e pensar numa cama igual à de seu Tomás da bolandeira.” 45
Ela estava “certa de que o marido se satisfazia com a idéia de possuir uma cama. Sinha Vitória desejava uma cama real, de couro e sucupira, igual à de seu Tomás da bolandeira.” 46

O menino mais novo: “A idéia surgiu-lhe na tarde em que Fabiano botou os arreios na égua alazã e entrou a amansá-la. Não era propriamente idéia: era o desejo vago de realizar qualquer ação notável que espantasse o irmão e a cachorra Baleia.
Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração. Metido nos couros, de perneiras, gibão e guarda-peito, era a criatura mais importante do mundo. As rosetas das esporas dele tilintavam no pátio; as abas do chapéu jogado para trás, preso debaixo do queixo pela correia, aumentavam-lhe o rosto queimado, faziam-lhe um círculo enorme em torno da cabeça.” 47

“Sinha Vitória cachimbava tranqüila no banco do copiar, catando lêndeas no filho mais velho. Não se conformando com semelhante indiferença depois da façanha do pai, o menino foi acordar Baleia, que preguiçava, a barriguinha vermelha descoberta, sem vergonha. A cachorra abriu um olho, encostou a cabeça à pedra de amolar, bocejou e pegou no sono de novo.” 48
51 O menino mais novo monta o bode para imitar o que Fabiano fizera com a égua. O irmão ri de seu tombo, e Baleia observa desaprovando.
52 Confirma a reprodução – o filho igual ao pai: “Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam telo prevenido. Não descobriu neles nenhum sinal de solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, séria, desaprovava tudo aquilo. Achou-se abandonado e mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.”

O menino mais velho pergunta sobre o inferno. 55
56 A divindade, para Baleia, é “o osso...” “A cachorra Baleia acompanhou-o [o menino mais velho] naquela hora difícil [fora escorraçado pela mãe ao perguntar-lhe sobre o inferno]. Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à espera de um osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava nos ossos, e o torpor que a embalava era doce. Mexia-se de longe em longe, punha na dona as pupilas negras onde a confiança brilhava. Admitia a existência de um osso graúdo na panela, e ninguém lhe tirava esta certeza, nenhuma inquietação lhe perturbava os desejos moderados. Às vezes recebia pontapés sem motivo. Os pontapés estavam previstos e não dissipavam a imagem do osso.” 56
56-57 A cachorra consola o menino mais velho, que está chorando.
57 “Diálogo” entre o menino mais velho e a cachorra: “O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.” 57
O menino mais velho percebe que ele vive no inferno. P. 61 inteira, do início ao fim.

64 o inverno vem com frio e rio, o oposto total da seca do verão.
63 – 64 Fabiano e sinha Vitória “conversando”... Importante notar isso. “Não era propriamente conversa, eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhe vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto.” 64

A água também mata, mas não preocupa, ainda que temam a enchente. 65
“O rio subia a ladeira, estava perto dos juazeiros. Não havia notícia de que os houvesse atingido – e Fabiano, seguro, baseado nas informações dos mais velhos, narrava uma briga de que saíra vencedor. A briga era sonho, mas Fabiano acreditava nela.” 67
71 Eles indo à festa de Natal na cidade. Incomodados com as roupas e os sapatos.
“Sinha Terta achara pouca a fazenda, e Fabiano se mostrara desentendido, certo de que a velha pretendia furtar-lhe os retalhos. Em conseqüência as roupas tinham saído curtas, estreitas e cheias de emendas.” 72
74-75 A estupefação dos meninos diante de um mundo que subitamente alargara-se diante deles.

“Olhou as caras em redor. Evidentemente as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite.” “Era como se as mãos e os braços da multidão fossem agarrá-lo, subjugá-lo, espremê-lo num canto da parede.” “A sensação que experimentava não diferia muito da que tinha tido ao ser preso.” 75
“Comparando-se aos tipos da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior. Por isso desconfiava que os outros mangavam dele. Fazia-se carrancudo e evitava conversas. Só lhe falavam com o fim de tirar-lhe qualquer coisa. Os negociantes furtavam na medida, no preço e na conta. O patrão realizava com pena e tinta cálculos incompreensíveis. Da última vez que se tinham encontrado houvera uma confusão de números, e Fabiano, com os miolos ardendo, deixara indignado o escritório do branco, certo de que fora enganado. Todos lhe davam prejuízo. Os caixeiros, os comerciantes e o proprietário tiravam-lhe o couro, e os que não tinham negócio com ele riam vendo-o passar nas ruas, tropeçando. Por isso Fabiano se desviava daquele viventes. Sabia que a roupa nova cortada e cosida por sinha Terta, o colarinho, a gravata, as botinas e o chapéu de baeta o tornavam ridículo, mas não queria pensar nisto.” 76
78 Desafia. Quer fazer asneira. Mas na verdade está só, ao lado da família apenas. “Estava disposto a esbagaçar-se, mas havia nele um resto de prudência. Ali podia irritar-se, dirigir ameaças e desaforos a inimigos invisíveis.” 78 Bêbado.

“Para a vida ser boa, só faltava a sinha Vitória uma cama como a de seu Tomás da bolandeira. Suspirou, pensando na cama de varas em que dormia. Ficou ali de cócoras, cachimbando, os olhos e os ouvidos muito abertos para não perder a festa.” 80-81 É sinha Vitória pensando.

Baleia nem ligou... “O menino mais velho agarrou-a. Estava segura. Tentaram explicar-lhe que tinham tido susto enorme por causa dela, mas Baleia não ligou importância à explicação. Achava é que perdiam tempo num lugar esquisito, cheio de odores desconhecidos. Quis latir, expressar oposição a tudo aquilo, mas percebeu que não convenceria ninguém e encolheu-se, baixou a cauda, resignou-se ao capricho dos seus donos.” 81
82 Os meninos surpresos com as coisas. “Como podiam os homens guardar tantas palavras?”
Baleia está doente. 85
“Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo [...]” 86
Todos ficam muito tristes por terem de matá-la. Os meninos ficam desesperados. 88
Fabiano “Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou:devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!” 94
“Nem lhe permitiam queixas. Porque reclamara, achara a coisa uma exorbitância, o branco se levantara furioso, com quatro pedras na mão. Para que tanto espalhafato?” 95
96 O imposto sobre o porco.
“Supunha que o cevado era dele. Agora se a prefeitura tinha uma parte, estava acabado. Pois ia voltar para casa e comer a carne. Podia comer a carne? Podia ou não podia? O funcionário batera o pé agastado e Fabiano se desculpara, o chapéu de couro na mão, o espinhaço curvo”. 96
“Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.” 97
“sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se, escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas.” 98
Fabiano, um tanto desanimado: “Agora não criava porco e queria ver o tipo da prefeitura cobrar dele imposto e multa. Arrancavam-lhe a camisa do corpo e ainda por cima davam-lhe facão e cadeia. Pois não trabalharia mais, ia descansar.” 98
Fabiano sente-se acuado pelas pessoas, a multidão. “O único vivente que o compreendia era a mulher. Não precisava falar: bastavam os gestos.” 98
O capítulo contas é, inteiro, perfeito.
“Sinha Terta é que se explicava como gente da rua. Muito bom uma criatura ser assim, ter recurso para se defender. Ele não tinha. Se tivesse, não viveria naquele estado.” 99

102 Depara-se com o soldado amarelo na catinga.
Fabiano “Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu tão absurdo que se pôs a rir. Medo daquilo? Nunca vira uma pessoa tremer assim. Cachorro. Ele não era dunga na cidade? não pisava os pés dos matutos, na feira? não botava gente na cadeia? Sem-vergonha, mofino.” 103

NOTAR AS INTERROGAÇÕES, FREQUENTES EM TODO O TEXTO E TAMBÉM NO ÚLTIMO PARÁGRAFO DA 103.

“Fabiano estirava o beiço e rosnava. Aquela coisa arriada e achacada metia as pessoa na cadeia, dava-lhes surra. Não entendia. Se fosse uma criatura de saúde e muque, estava certo. Enfim apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentiria orgulho ao recordar-se da aventura. Mas aquilo... Soltou uns grunhidos. Por que motivo o governo aproveitava gente assim? Só se ele tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dar pancada neles? Não iria.” 105
“A idéia de ter sido insultado, preso, moído por uma criatura mofina era insuportável. Mirava-se naquela covardia, via-se mais lastimoso e miserável que o outro.” 106
“Recordou-se de lutas antigas, em danças com fêmea e cachaça. Uma vez, de lambedeira em punho, espalhara a negrada. Aí sinha Vitória começara a gostar dele.” 106
Fabiano sequer sabe a própria idade, e não tem espelho para ver os cabelos grisalhos. “Arruinado, um caco. Não sentira a transformação, mas estava-se acabando.” 106
“Tirou o chapéu de couro, curvou-se e ensinou o caminho ao soldado amarelo.” 107

110 As arribações e a reflexão de sinha Vitória, não compreendida a princípio por Fabiano.
Quando compreende, ri-se “encantado com a esperteza de sinha Vitória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha idéias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo.” 110
114 4° parágrafo.
115 Fabiano pensando na cachorra Baleia.
“Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.” 117
Fabiano sofre por ter de deixar a fazenda e, junto com ela, os sonhos que ela alimentara.
120-121-122 Enquanto retiram-se, conversam. Deste modo, o tempo passa mais rápido e o peso da caminhada torna-se menor. Caminham quase sem sentir. NOTAR ESTA FUNÇÃO DA LINGUAGEM.
“- O mundo é grande.
Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande [...]” 123
123 O sonho de sinha Vitória para os filhos em terras distantes.

126 Os urubus dão raiva a Fabiano porque picam os olhos de quem já não pode mais se defender. NOTAR ESTA SIMBOLOGIA E COMPARAR COM O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO.

“Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que lhe entravam nas alpercatas, o cheiro de carniças que empestavam o caminho. As palavras de sinha Vitória encantavam-no. Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de sinha Vitória, as palavras que sinha Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinha Vitória e os dois meninos.” 127-128